Malformações na estrutura ou na função do coração

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Ameaça ao coração dos bebês

Escrito por: Elessandra Asevedo

Todos os anos, cerca de 130 milhões de crianças no mundo nascem com algum tipo de cardiopatia congênita, classificada como um conjunto de malformações na estrutura ou na função do coração que surgem durante o desenvolvimento fetal. A incidência é de 8 a 10 por 1.000 nascidos vivos, portanto, apesar de rara, há muitas crianças com o problema. De acordo com dados do Ministério da Saúde, a condição está entre as malformações que mais matam na infância, permanecendo como a terceira causa de óbito no período neonatal. As cardiopatias afetam cerca de 30 mil crianças por ano no Brasil, e perto de 40% vão necessitar de cirurgia no primeiro ano de vida. Além disso, das crianças nascidas com essa condição anualmente, aproximadamente 6% morrem antes de completar um ano. A forma grave da doença pode ser responsável por 30% dos óbitos no período neonatal.

Essa malformação no coração pode ter característica genética, poligênica e multifatorial e ocorre entre a 4ª e 8ª semanas gestacionais – quando acontece a formação do coração do feto. De acordo com a médica cardiologista pediátrica do Departamento de Pediatria da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Isabela de Carlos Back, integrante da Comissão Científica do Departamento de Cardiologia Pediátrica da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), quando o pai e a mãe possuem uma cardiopatia congênita há mais chances de o problema ocorrer na criança. “Além disso, o uso de medicação sem prescrição médica, infecções causadas por rubéola, toxoplasmose, sífilis, herpes, aids e citomegalovírus, contato com radiação e deficiência nutricional durante a gravidez podem prejudicar a correta formação do coração do feto”, alerta.

As cardiopatias congênitas são classificadas em cianóticas, quando o bebê apresenta coloração azul-arroxeada de pele, leitos ungueais ou mucosas, e acianóticas. As acianóticas se caracterizam por cansaço, dificuldade de ganho de peso e infecções respiratórias frequentes, mas as crianças não ficam roxas. A comunicação interventricular é a mais comum e favorece as infecções pulmonares e o cansaço, além da comunicação interatrial, persistên­cia do canal arterial e defeito do septo atrioventricular. Já as cardiopatias cianóticas têm como característica mais evidente a ­tonalidade azulada de lábios e pele, sinalizando que não há ­oxigênio suficiente no sangue. Dentre este ­grupo estão a ­transposição das grandes arté­rias, hipopla­sia do coração esquerdo e tetralogia de ­Fallot. O tratamento depende do tipo, mas, se tratadas no momento certo e da melhor forma – por meio de cirurgia ou ­cateterismo –, as crianças podem ter uma condição de vida próxima ao normal”, ­pontua a cardiologista Ieda Biscegli Jatene, líder médica da Cardiologia Pediátrica do Hospital do Coração (HCor), em São Paulo.

Os sintomas e sinais variam conforme a gravidade e podem surgir como franca insuficiência cardiorrespiratória, cianose ou mesmo choque logo após o nascimento. No lactente, frequentemente ocorre taquidispneia, arritmias, síncope, hipertensão arterial, cansaço às mamadas, falência no ­desenvolvimento pondero-es­­tatural (para acompanhamento do crescimento) e alterações de pulsos. “Em crianças maiores e adolescentes, o exame físico minucioso com ausculta cardíaca e investigação de sintomas sugestivos ajuda no diagnóstico de casos mais leves que não foram diagnosticados previamente”, afirma a médica Isabela de Carlos Back.

Diagnóstico precoce

As cardiopatias congênitas também podem ocorrer no estágio final da gestação, e a gravidade vai depender do momento em que aparecem: quanto mais cedo, mais grave. Além disso, quanto mais tarde for feito o diagnóstico, menor será a chance de a criança sobreviver e maior o risco para ter complicações. “Como o diagnóstico deve ser realizado durante a gravidez, o pré-natal é essencial. Por meio do ecocardiograma fetal o médico consegue saber o tipo de cardiopatia antes do nascimento e se há necessidade de a criança nascer em um local especial”, reforça a médica Ieda Biscegli Jatene.

As cardiopatias mais complexas, como a transposição das grandes artérias e a hipoplasia do coração esquerdo, devem ser operadas nos primeiros dias de vida. As acianóticas não são operadas após o nascimento e é preciso esperar por volta de quatro a seis meses para regularizar o sistema de pressão dentro do pulmão do recém-nascido e entender qual é a repercussão do defeito. Outra opção é o cateterismo realizado no coração do bebê ainda no ventre da mãe até 26 semanas de gestação. O procedimento visa dilatar a válvula aórtica para evitar a hipoplasia do coração esquerdo.

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