Braços robóticos controlados por médicos auxiliam em inúmeras cirurgias gastrointestinais
A tecnologia entrou definitivamente na Medicina e, com isso, os exames e diagnósticos ficaram mais precisos, os procedimentos cirúrgicos estão mais seguros e os tratamentos apresentam resultados mais satisfatórios. Tudo isso colabora para melhorar a qualidade de vida dos pacientes e favorece os médicos, que podem se concentrar ainda mais no ato de cuidar. Na década de 1990, o surgimento da videolaparoscopia – técnica cirúrgica minimamente invasiva – foi uma revolução devido à diminuição da agressividade nos procedimentos e, há cerca de 15 anos, surgiu a cirurgia robótica, considerada ainda menos invasiva e com potencial para uma recuperação mais rápida. Hoje, ambas as técnicas estão presentes em todo o Brasil e cada dia ganham mais aperfeiçoamento graças ao avanço tecnológico de softwares e à internet 5G.
Na Gastroenterologia, a cirurgia robótica é aplicável para diferentes procedimentos, como esofagectomia, gastrectomia, pancreatectomia, hepatectomia e cirurgias colorretais. O equipamento robótico também trouxe a possibilidade de minimizar algumas dificuldades encontradas em determinados procedimentos, como a cirurgia bariátrica laparoscópica, por exemplo, na qual o cirurgião tinha visão limitada e falta de ergonomia em pacientes muito obesos. O estudo ‘Resultados iniciais da primeira série de casos brasileiros de cirurgia bariátrica totalmente robótica’, que tem a participação do médico cirurgião Carlos Eduardo Domene, professor doutor do Departamento de Cirurgia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) e presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Minimamente Invasiva e Robótica (Sobracil), mostra que o uso do robô apresenta taxas de complicações semelhantes ou menores em relação à cirurgia laparoscópica convencional, sendo raríssimo o relato de ocorrência de fístulas.
O artigo ‘Cirurgia abdominal por robótica: experiência brasileira inicial’, realizado por médicos do Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, descreve as experiências com cirurgias abdominais assistidas por robô entre julho de 2008 e abril de 2010, realizadas em 44 pacientes – a maioria para correção de hérnia de hiato ou cirurgia bariátrica. Com exceção de um, os demais pacientes tiveram alta no dia seguinte ao procedimento e não houve hemorragia, necessidade de nova operação ou conversão para procedimento laparoscópico.
O pesquisador Ulysses Ribeiro Junior, médico do Departamento de Gastroenterologia do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo, unidade do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (ICESP-HC-FMUSP) – que participou do estudo –, afirma que a única complicação foi uma fístula devido ao procedimento de clampeamento videolaparoscópico em operação bariátrica. ‘‘Isso que nos leva a concluir que a cirurgia abdominal assistida por robô é segura para os pacientes, com sangramento reduzido e tempo aceitável de operação, além de ser mais ergonômica para os cirurgiões”, acentua.
Câncer
A gastrectomia robótica também tem se mostrado um método seguro e viável no tratamento do câncer gástrico. Pesquisadores do ICESP-HC-FMUSP também desenvolveram o artigo ‘Resultados cirúrgicos de curto prazo da gastrectomia robótica em comparação com a gastrectomia aberta para pacientes com câncer gástrico: um estudo randomizado’, que comparou os resultados cirúrgicos das duas técnicas em 60 pacientes. Os pesquisadores identificaram que a gastrectomia robótica teve número médio semelhante de linfonodos colhidos, maior tempo cirúrgico e menos sangramento em comparação à cirurgia aberta.
Além disso, as complicações pós-operatórias, o tempo de internação e as reinternações em 30 dias foram equivalentes em ambas as técnicas. “No entanto, a gastrectomia robótica reduz o sangramento operatório em mais de 50%. Embora o tempo de cirurgia tenha sido maior porque estávamos iniciando esse tipo de procedimento, demonstramos que a gastrectomia robótica pode ser um método seguro e viável no tratamento do câncer gástrico”, acentua o gastroenterologista Ulysses Ribeiro Junior. O artigo foi publicado no Journal of Gastrointestinal Surgery.