Ao longo da história, pessoas afetadas pela hanseníase seguem sofrendo com o estigma e a discriminação, ainda profundamente enraizados em muitas comunidades e ambientes de saúde. Além de enfrentarem os sintomas físicos decorrentes da doença, muitos pacientes apresentam questões emocionais importantes como baixa autoestima, angústia, solidão e sofrimento, que podem evoluir para transtornos psiquiátricos. O preconceito, quando não combatido, impede a busca por tratamento médico, impacta negativamente o bem-estar e altera a qualidade de vida. Para mudar esse cenário, ter uma rede de acolhimento e apoio psicológico na atenção primária é fundamental, bem como garantir uma rede de atenção integral e integrada à hanseníase em todos os níveis de complexidade do SUS.
De acordo com a psiquiatra Aline Quintal, professora auxiliar de Psiquiatria e Saúde Mental e orientadora da Liga Acadêmica de Saúde Mental (LASM) da Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT), relatos da literatura apontam que a depressão é o transtorno psiquiátrico mais comum entre os pacientes com hanseníase. “Somados aos aspectos físicos, o curso crônico da doença, o longo período de tratamento e o estigma atrelado ao diagnóstico podem ocasionar sofrimento psíquico semelhante a um processo de luto. Em maior ou menor intensidade, os sentimentos e comportamentos mais comuns observados nesses pacientes são tristeza, falta de energia, sensação de impotência e exclusão, mau humor, baixa autoestima, culpa, constrangimento, desespero e, em casos mais extremos, pensamentos suicidas”, enumera.
Além do apoio familiar, os pacientes precisam de acolhimento dos profissionais da saúde, especialmente na atenção primária, e de acesso a serviços de reabilitação integrados fundamentais para prevenir ou evitar quadros mais intensos de depressão. “Quando a equipe de atendimento regular identifica gatilhos emocionais que podem levar ao sofrimento psíquico, o paciente deve ser encaminhado para os serviços de Psiquiatria ou Psicologia. Tais profissionais são qualificados para oferecer escuta ativa e estratégias terapêuticas com foco no bem-estar emocional, combatendo a baixa autoestima, os medos e as inseguranças, e garantindo a aceitação do diagnóstico e a melhor adesão ao tratamento”, destaca a psiquiatra. Além disso, os pacientes devem ser encorajados a formar ou participar de grupos de autoajuda para compartilhar vivências, preocupações e apoio mútuo com pessoas que estejam enfrentando as mesmas condições.
Os efeitos do preconceito podem incluir acesso reduzido à educação, exclusão social, desemprego e perda de renda. “É preciso desconstruir e combater o estigma em torno da doença, pois, assim que o paciente recebe as primeiras doses farmacológicas do tratamento já deixa de ser um agente transmissor. Dessa forma, pode retomar à rotina de atividades, ainda que alguns sintomas levem a uma limitação física”, acentua. Para isso, é determinante que o poder público invista em campanhas de conscientização que derrubem mitos e preconceitos sobre a doença, assim como otimizem a inclusão desses pacientes em todas as esferas da sociedade.