Muitos estudos têm comprovado que determinadas cepas probióticas podem prevenir o desenvolvimento de diarreia associada a antibióticos (DAA) e diarreia associada a Clostridium difficile (CDAD, na sigla em inglês). No entanto, a eficácia depende da cepa e da dose. Além disso, há poucos dados sobre intervenções nutricionais para controlar DAA/CDAD na população com lesão medular espinhal.
A diarreia associada ao uso de antibióticos e causada pelo Clostridium difficile também é uma complicação do tratamento com agentes antimicrobianos. Uma vez perturbado este ecossistema de microrganismos, os pacientes tornam-se mais suscetíveis a infecção por agentes patogênicos oportunistas.
Dessa forma, pesquisadores do Reino Unido desenvolveram um estudo para investigar a eficácia do consumo do probiótico Lactobacillus casei Shirota (LcS) na redução da incidência de AAD/CDAD em pacientes com lesões na medula espinhal. Além disso, avaliaram se a desnutrição e os prótons inibidores de bomba (IBP) seriam fatores de risco para essas condições.
Entre setembro de 2010 e setembro de 2012, 164 pacientes com lesão da medula espinhal submetidos à antibioticoterapia foram selecionados para receber aleatoriamente Lactobacillus casei Shirota ou placebo. O LcS foi administrado uma vez ao dia durante a ingestão do antibiótico e continuou por sete dias depois disso.
Quando havia evidência de diarreia durante três ou mais dias e em quantidades superiores ao normal, uma amostra de fezes era coletada para detecção de toxina C. difficile e análise de glutamato desidrogenase. “Além da administração da bebida probiótica, não houve diferenças no atendimento aos pacientes entre os dois grupos”, afirmam os autores.
Resultados
O grupo LcS teve uma incidência significativamente menor de DAA em comparação ao grupo placebo (17,1 versus 54,9). Os autores citam que, no início do estudo, 65% dos doentes apresentavam risco de desnutrição. Assim, o estudo indicou que o LcS poderia reduzir a incidência de DAA em pacientes hospitalizados com lesão medular espinhal. “É necessário um estudo randomizado e controlado por placebo para confirmar este aparente sucesso terapêutico, a fim de se traduzir em melhores resultados clínicos”, sugerem os autores.
Microbiota
A administração de probióticos e a ingestão de fibra alimentar podem influenciar a composição da microbiota intestinal. Dessa forma, promovem a disponibilidade de ácidos graxos de cadeia curta (AGCC) no cólon. De acordo com os cientistas, isso poderia ter um efeito benéfico na redução do aparecimento de diarreia, porque os AGCC são potentes estimuladores da absorção de água e eletrólitos no cólon.
“Um critério importante para qualquer probiótico é que as cepas utilizadas sobrevivam à passagem pelo estômago e cheguem em estado viável ao intestino delgado e ao cólon”, explicam os autores. Anteriormente, já foi demonstrado que o LcS sobrevive e é bem tolerado no trato gastrointestinal superior, e atinge o intestino grosso em um estado viável. Ademais, vários ensaios de intervenção humana demonstraram a presença de LcS em amostras de fezes após o consumo diário de uma bebida com o probiótico.
Evidências de estudos em humanos sugerem que o LcS aumenta previsivelmente o número de bactérias intestinais benéficas, ajuda na constipação, modula a função imunológica, reduz o risco global de infecção, inibe H. pylori e reduz o risco de diarreia. O estudo ‘A Lactobacillus casei Shirota probiotic drink reduces antibiotic-associated diarrhoea in patients with spinal cord injuries: a randomised controlled trial’ foi publicado em 2014 no British Journal of Nutrition.