Pesadelos são sonhos perturbadores e vívidos que geralmente ocorrem na fase REM (Rapid Eye Movement) do ciclo do sono, que é caracterizada por atividade cerebral intensa. Descrito como uma parassonia primária, o pesadelo causa emoções negativas como medo e ansiedade. Além disso, provoca o aumento da frequência cardíaca e respiratória, levando a despertares abruptos. De acordo com a literatura, ter sonhos desagradáveis é comum em todas as fases da vida e, quando ocasionais, não há com o que se preocupar. Entretanto, quando sonhos ruins ocorrem com maior frequência podem gerar angústia significativa, causar insônia e atrapalhar o rendimento nas atividades cotidianas. Ademais, podem ser fator de risco para o desenvolvimento de doenças cardíacas ou indicativo de transtornos mentais, a exemplo de depressão e estresse pós-traumático (TEPT). Como as causas são individuais, os cuidados para diminuir a incidência e os riscos associados pode exigir estratégias específicas e abordagem terapêutica personalizada.
Além do sono REM, os pesadelos podem se manifestar em outras fases, ou seja, nos estágios N1, N2 e N3 do sono NREM (Non-Rapid Eye Movement). Neste período, ocorre um relaxamento progressivo do corpo e da mente, ao mesmo tempo que há uma queda gradativa da atividade cerebral. Entretanto, aqueles que acontecem no período REM geralmente são mais vívidos e lembrados. “Isso ocorre porque, na fase REM, além de o corpo estar em máximo relaxamento muscular, a atividade cerebral é mais intensa e semelhante à de quando estamos acordados”, explica o médico e doutor em Neurociências Sérgio Arthuro Mota Rolim, pesquisador e docente do Laboratório de Sono, Sonhos e Memória do Instituto do Cérebro (ICe) da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). A experiência pode ser tão intensa que, muitas vezes, o indivíduo acorda com a sensação de que aquele é um cenário real.
Normalmente relacionados com ameaças de segurança, integridade física ou sobrevivência, esses sonhos perturbadores podem ser representados por perseguição, queda, luto e situação relacionada a um trauma, entre outros. “Independentemente do enredo, pesadelos apresentam conteúdo disfórico como tristeza, medo, irritabilidade ou angústia, assim como reações como sudorese, ritmo cardíaco e respiração acelerados que podem persistir mesmo depois do despertar, dificultando a retomada e a qualidade do sono”, descreve o médico neurologista Alan Luiz Eckeli, professor de Neurologia e Medicina do Sono do Departamento de Neurociências e Ciências do Comportamento da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FMRP-USP). Na população, esses episódios ocasionais são normais independentemente da faixa etária. No entanto, se forem muito frequentes podem ser considerados um distúrbio conhecido como ‘transtorno do pesadelo’.
Sem uma causa bem definida pela ciência, diversos fatores podem ser associados com a incidência dos pesadelos. “Como o cérebro processa emoções durante o sono, agentes como ansiedade, estresse e transtorno de estresse pós-traumático podem estar associados a esses episódios”, observa a pesquisadora do Instituto do Sono/AFIP, Dalva Poyares, médica neurologista e professora adjunta do Departamento de Psicobiologia da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Outras causas possivelmente desencadeadoras incluem o uso de determinados medicamentos, como alguns antidepressivos e betabloqueadores que podem ter pesadelos como efeito colateral. Estilo de vida, distúrbios do sono e abuso de álcool e de drogas recreativas também são fatores desencadeantes. Ademais, viver em regiões de conflito e de grande violência e até mesmo assistir a filmes de terror, suspense ou de extrema agressividade antes de dormir podem levar a pesadelos.
Estratégias – Lidar com os pesadelos crônicos é importante para garantir noites de sono tranquilas e, consequentemente, manter a saúde física e mental. Ainda que não exista uma técnica exclusiva para evitar a ocorrência desses episódios, o neurologista Alan Luiz Eckeli sugere algumas estratégias para prevenir ou reduzir a frequência. Entre as recomendações estão o gerenciamento do estresse, seja com exercícios físicos, técnicas de relaxamento ou terapia; estabelecer uma rotina de sono regular e criar um ambiente propício ao sono que inclua um ambiente tranquilo e escuro. O uso de travesseiro adequado a cada biotipo e a eliminação de estímulos como televisão, computador ou celular antes de dormir também podem ajudar. Outra recomendação é evitar o consumo de bebidas alcoólicas e refeições pesadas antes de se deitar. “Se, mesmo com esses cuidados, os pesadelos persistirem e estiverem afetando a qualidade de vida, é preciso buscar ajuda médica especializada para tratar possíveis condições ou doenças relacionadas, a exemplo de depressão, transtorno de ansiedade generalizada ou transtorno do estresse pós-traumático”, orienta.
