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| Vida Saudável

Bom humor é o tempero para a vida

Escrito por: Fernanda Ortiz

Descrito como um dos principais sinalizadores das emoções humanas, o humor reflete o estado de equilíbrio e a forma como o indivíduo se relaciona e ­enfrenta as adversidades. Nesse sentido, o bom humor potencializa o bem-estar e o viver de forma mais leve. Considerado uma demonstração de estado emocional positivo, o bom humor pode se expressar pelo riso, pela espiritualidade, pela resiliência, pelas palavras e pelos gestos. Mais do que estimular vínculos afetivos e contribuir para um estado de felicidade, também é um aliado importante da saúde física e emocional. Isso se explica porque o bom humor aumenta a energia vital, fortalece o sistema imunológico, ajuda a diminuir a dor pela liberação de endorfina, protege contra os efeitos do estresse, desperta a intuição, o sentimento e a percepção frente aos contratempos da vida.

Segundo o médico psiquiatra ­Antô­nio Egídio Nardi, professor titular e chefe do Departamento de Psiquiatria e Medicina Legal da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), é importante entender que o estado de humor difere da emoção. “Enquanto o humor se refere a um estado emocional que dura longos períodos, ou seja, o indivíduo pode ser bem-­humorado durante toda a vida, a emoção de estar feliz, triste ou empolgado, por exemplo, é descrita como um estado psicológico que dura um curto período de tempo, resultante de um estímulo externo”, descreve. Em outras palavras, o humor pode ser definido como algo crônico e duradouro, enquanto a emoção é descrita como uma sensação aguda que, em breve, passará.

A literatura aponta que ter bom humor – assim como o contrário – faz parte de um traço da personalidade que dá mais sentido às experiências do cotidiano. O professor acentua que, diferentemente do mau humor constante que é rodeado de pessimismo, descrença, falta de energia e baixa autoestima – podendo levar a uma depressão crônica com intensidade moderada –, o bom humor é um traço de personalidade em que as pessoas vivem de maneira mais leve, cultivam gentileza, reciprocidade e cortesia. “Em geral, esses indivíduos têm habilidade para desenvolver emoções positivas, e procuram transmitir alegria, ­serenidade e esperança para aqueles com quem convivem”, comenta. O indivíduo com bom humor também atrai pessoas que apresentam os mesmos comportamentos positivos, enquanto o mal-humorado tende a viver no isolamento, pois a energia negativa incomoda e afasta as pessoas.

Mesmo no bom humor é preciso equilibrar a dose de energia. O médico psiquiatra e psicoterapeuta Leonardo Sodré, professor adjunto da Faculdade de Medicina da Universidade de Brasília (UnB), ressalta que quando o excesso de bom humor ultrapassa a dose considerada ‘saudável’ (eutímica), faz com que o indivíduo tome decisões muito rápidas, não preste atenção aos detalhes de uma tarefa, faça brincadeiras e tente ser engraçado o tempo todo, inclusive em ambientes inadequados, indicando que algo pode estar errado e merece atenção. “Afinal, ser feliz o tempo todo, mesmo nas situações difíceis, infelizmente não é possível”, avalia. Portanto, é importante manter o bom humor na medida certa, sem permitir que o excesso se ­transforme em positividade tóxica – quando o problema não está no otimismo, mas em achar que se sentir alegre a todo momento ajuda a superar todos os acontecimentos e todas as decisões difíceis da vida.

Ainda que o humor seja um dos mecanismos de defesa mais maduros, isso não significa que uma pessoa bem-humorada, que sempre ri e faz piada de tudo, esteja saudável. O psiquiatra Leonardo Sodré ressalta que ter bom humor não é simplesmente fazer piada, nem ser um tipo sarcástico ou levar tudo na brincadeira. Da mesma forma que fazer o outro rir não significa estar bem, próspero e feliz. “Na verdade, o fazer rir pode ser uma armadura que esconde questões profundas que trazem angústia. Por isso, é importante investir no autoconhecimento e na inteligência emocional para compreender os próprios comportamentos e de que forma as emoções afetam o humor e a vida como um todo, ou seja, encontrar maneiras de trazer a alegria que oferece aos outros para si mesmo”, enfatiza.

Resiliência

A biomédica e doutora em Psicobiologia Deborah Suchecki, professora titular livre-docente do Departamento de Psicobiologia da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), afirma que o bom humor é uma característica impor­tantíssima para a resiliência, porque pode ser aprendido e aprimorado. “Pessoas resilientes são capazes de rir das adversidades e fazer piadas com seus próprios infortúnios. Isso significa que, mesmo em momentos muito difíceis, inclusive aqueles relacionados à saúde, vão encontrar algo para brincar, fazer uma piada ou até modificar a história para deixá-la mais leve e engraçada”, sina­liza. Portanto, o riso é o melhor aliado dos resilientes, pois, além de ajudá-los a permanecerem ­esperançosos, permite que sua atenção seja mais globalizada, registrando aspec­tos negativos e ­positivos da situação vivida.

A resiliência também está ­relacionada com a recuperação. Ao ser afetado por situações adversas, essa capacidade promove uma série de modificações comportamentais e fisiológicas, possibilitando que o indivíduo se restabeleça. “Muitas pessoas se sentem aniquiladas, por exemplo, diante de uma grave doença ou de uma situação traumática. Outras conseguem entender o que significam essas situações e, a partir delas, tirar algo produtivo como aprendizado”, comenta a psicobióloga. Também neste sentido o bom humor é essencial, pois está associado à melhor resposta desse processo. A espiritualidade e a fé podem ser complementares ao bom humor e à resiliência, pois, juntas, potencializam o bem-estar para melhorar a qualidade de vida

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