Provar e não gostar de um legume, fruta ou tempero é normal, porque o hábito e a cultura alimentar estão diretamente ligados aos gostos pessoais. Entretanto, torna-se um problema quando o indivíduo, especialmente as crianças, deixam de consumir um alimento que dizem não gostar mesmo sem ter provado anteriormente. Seja pela textura, cor, cheiro, temperatura ou aparência, a aversão alimentar demanda acompanhamento médico especializado por oferecer risco à saúde. Por exemplo, o problema pode levar a um atraso no crescimento e/ou no desenvolvimento infantil, em consequência de déficits ou carências nutricionais.
O desenvolvimento das preferências alimentares se inicia desde a gestação, por meio da dieta materna. É neste período que o bebê é exposto a diferentes sabores iniciando, portanto, sua aprendizagem sensorial. De acordo com a nutricionista Cintya Bassi, coordenadora de Nutrição e Dietética do Grupo São Cristóvão Saúde, alguns fatores contribuem para o surgimento de aversões alimentares. “A principal causa é a neofobia alimentar, ou seja, o medo de experimentar alimentos que não são familiares. Comum em crianças, pode prevalecer em adolescentes e na fase adulta”, comenta. Outras causas incluem a hereditariedade, a hipersensibilidade ao gosto amargo e práticas alimentares restritivas, além de características culturais e sociodemográficas que levem à monotonia alimentar.
“Naturalmente, nascemos com preferência pelo sabor adocicado associado ao leite materno. Portanto, se a exposição já na infância diminui em razão disso, a tendência é que, na fase adulta, a resistência seja mantida”, esclarece a especialista. Para casos assim, a apresentação dos alimentos deve ser gradual, iniciada pelo toque, depois o cheiro, a sensação da textura e, por último, a degustação. As principais razões para superar a aversão por um determinado alimento são a pressão social, o desejo de sofisticar as práticas alimentares e a busca por hábitos mais saudáveis.
Preparação interfere
Muitas vezes, o problema pode não estar relacionado ao alimento, mas com sua forma de preparo. “Uma criança que rejeita a cenoura ralada, por exemplo, pode estar demonstrando que não aceita bem essa textura. No entanto, pode gostar da forma cozida ou como parte de outras preparações”, observa a nutricionista. O ideal, portanto, é não excluir o alimento e sim fazer a exposição contínua, sem julgamento ou pressão, de forma atrativa para que a rejeição seja substituída, aos poucos, pelo hábito. A nutricionista alerta que os pais ou pessoas próximas nunca devem rotular a criança ou o adulto como enjoado ou chato para comer, uma vez que essa atitude pode influenciá-los a seguir com a seletividade.
“A aversão alimentar demanda acompanhamento e torna-se um problema em decorrência da carência nutricional, que oferece inúmeros riscos à saúde, especialmente das crianças”, destaca. Dessa forma, pode ser responsável pela baixa imunidade, pelo atraso no crescimento e desenvolvimento – inclusive cognitivo – e pela desnutrição. Dessa forma, ao notar a recusa constante por alimentos, principalmente os mais saudáveis, recomenda-se buscar ajuda de um profissional especializado. Acima de tudo, o diagnóstico será importante para um tratamento adequado. Além de acompanhamento multiprofissional, a participação efetiva e paciente da família é essencial para dar bons exemplos, incentivar o consumo dos alimentos rejeitados, inovar nas preparações e apresentar novos sabores.