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Programas reabilitam a função intestinal

Escrito por: Fernanda Ortiz

Para fortalecer o tratamento clínico e nutricional de crianças com necessidade de nutrição parenteral prolongada em decorrência de falência intestinal – condição clínica grave caracterizada pela perda de boa parte do intestino delgado –, programas e centros especializados dispõem de um tratamento multiprofissional avançado denominado reabilitação intestinal. O tratamento visa estimular a adaptação do intestino remanescente, resgatando a capacidade de digerir e absorver os nutrientes necessários para o crescimento e a saúde da criança e possibilitando, na maioria dos casos, a redução da nutrição parenteral ou sua exclusão total. Para prevenir risco de infecções, a reabilitação intestinal trabalha pela desospitalização e continuidade do tratamento em regime domiciliar, oferecendo treinamento aos cuidadores para que a criança responda positivamente ao tratamento e garantindo sua segurança, socialização, saúde e qualidade de vida.

A falência intestinal é uma condição grave, em que o intestino delgado não é capaz de absorver nutrientes, vitaminas, água e eletrólitos fundamentais ao funcionamento do organismo. Segundo a cirurgiã pediátrica Maria Paula Coelho, coordenadora do Programa Avançado de Tratamento da Insuficiência Intestinal (PATTI) do Sabará Hospital Infantil, em São Paulo, a síndrome do intestino curto é a principal causa de falência intestinal em crianças pequenas. “É uma condição de origem congênita ou causada por ressecções intestinais extensas após o nascimento”, informa. O problema pode ocorrer devido à enterocolite necrosante, inflamação que acomete o trato gastrointestinal do recém-nascido, especialmente prematuros; à gastrosquise, um defeito congênito da parede abdominal do bebê na região do umbigo, em que o conteúdo intestinal fica fora da cavidade ao nascimento; ao volvo intestinal, que causa interrupção do fluxo sanguíneo e consequente necrose das alças intestinais; ou a atresias intestinais, que ocorrem quando há ausência de continuidade em algum ponto ou em vários pontos do intestino.

Quando há falência e o que sobra do intestino não é capaz de absorver os nutrientes para a criança se manter, é necessário o uso de nutrição parenteral, que permite o adequado desenvolvimento e crescimento da criança. “Como esses pacientes recebem nutrição parenteral por período prolongado, devem ser acompanhados por uma equipe de reabilitação intestinal que, por meio de uma série de medidas, estimulará a adaptação e autonomia do intestino remanescente, o que pode levar de 24 a 60 meses ou mais, tornando o paciente menos dependente e, em muitos casos, livre da nutrição parenteral”, destaca a gastroenterologista e nutróloga Jocemara Gurmini, coordenadora do Serviço de Terapia Nutricional do Hospital Pequeno Príncipe, de Curitiba.

A intervenção possibilita a desospitalização e a continuidade do tratamento em casa, com supervisão de equipe especializada. A criança passará por exames e consultas de acompanhamento para adequação de suporte nutricional de acordo com a curva de crescimento e o acompanhamento deve incluir habilidades motoras, cognitivas e socioemocionais, o que representa um salto na qualidade de vida do paciente que poderá ir para a escola, brincar e crescer de forma mais saudável.

A nutrição parenteral garante todos os nutrientes que o organismo precisa, mas, quando a criança começa a transacionar para a dieta oral, é preciso um cuidado maior para evitar possíveis deficiências. “A alimentação oral, fracionada em pequenas porções ao longo do dia, deve ser iniciada a partir da estabilidade das perdas hidroeletrolíticas e do controle das perdas fecais, enquanto a nutrição parenteral segue sendo administrada em períodos cada vez menores, de preferência apenas à noite. A introdução dos alimentos e a quantidade ofertada aumenta gradativamente de acordo com a tolerância da criança e suas especificidades”, orienta a cirurgiã pediátrica Maria Paula Coelho.

O grande desafio é o desenvolvimento da oralidade que não é estimulado em muitas crianças, pois, logo ao nascer, são retiradas das mães e submetidas a cirurgias, intubação, sondas e cateteres. A oralidade pode ser traumática para essas crianças, e a falta de estímulo em cada fase agrava o problema. Por isso, a amamentação é importante porque, mesmo que o bebê faça apenas a drenagem do leite do peito, aprenderá a sugar e perceber essa conexão da boca com o alimento o que, no futuro, será importante.

Prevenção

Outras medidas visam prevenir riscos e complicações relacionadas ao tratamento. “Entre os cuidados, é preciso atenção com a preservação de acessos vasculares para evitar trombose e infecções; prevenção ou reversão de lesão hepática provocada pela nutrição parenteral ou falência intestinal, assim como prevenção e tratamento do supercrescimento bacteriano intestinal”, pontua o cirurgião Rodrigo Vincenzi, coordenador do Centro de Reabilitação Intestinal e Transplante (CRITx) do Hospital Sírio-Libanês e do Hospital Municipal Infantil Menino Jesus, em São Paulo. Na maioria dos casos, a terapêutica é clínica, baseada na avaliação individualizada e no ajuste da terapia nutricional e medicamentosa.  Entretanto, procedimentos cirúrgicos podem ser realizados para a reconstrução do trânsito intestinal. Já o transplante intestinal é realizado em pacientes com complicações graves associadas à doença ou ao uso da nutrição parenteral.

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