A identificação, avaliação e o acompanhamento da saúde mental de crianças e adolescentes é fundamental para o equilíbrio emocional nesta faixa etária. Dados alarmantes levantados pela Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) revelam que, a cada ano, cerca de mil crianças e jovens entre 10 e 19 anos cometem suicídio no Brasil. Entre os anos de 2016 e 2021, houve um aumento de mais de 49% de casos na faixa etária de 15 a 19 anos. Especialistas acreditam que o número poderia ser maior, se considerados os casos subnotificados. Por isso, o cuidado deve ser compartilhado entre os adultos responsáveis.
“Os pais, cuidadores e professores precisam estar atentos ao estado de saúde mental manifestado por comportamentos, expressões emocionais e fragilidades”, adverte a psicóloga Angelita Wisnieski da Silva, coordenadora do Serviço de Psicologia do Hospital Pequeno Príncipe, no Paraná. Ao oferecer escuta, apoio e tratamento profissional é possível prevenir consequências graves como, por exemplo, a automutilação e o suicídio.
De acordo com a especialista, não há uma causa isolada que leve uma criança ou adolescente a tirar a própria vida, mas um conjunto de fatores físicos, psicológicos, comportamentais e sociais. Assim, crianças e adolescentes, em seu processo de desenvolvimento e maior vulnerabilidade ao sofrimento, demandam medidas que os ensinem a lidar com desafios.
Dessa maneira, o cuidado com a saúde mental deve ser compartilhado. Dessa forma, deve ser uma responsabilidade coletiva. “Os adultos devem estimular uma visão de mundo mais ampla, incentivar soluções para problemas e ensinar, desde cedo, que as dificuldades impostas pelo mundo podem ser enfrentadas e superadas de maneira mais leve, quando compartilhadas”, orienta a psicóloga.
Sinais de alerta
Mudanças repentinas de comportamento ou estados intensos que atrapalhem a rotina podem ser sinais de alerta. Além disso, desinteresse, dificuldades ou prejuízos no desempenho e na aprendizagem escolar; assim como ansiedade, agitação, irritabilidade ou tristeza permanentes devem ser monitorados. Ademais, o isolamento persistente, com afastamento de grupos sociais; a baixa autoestima, com desinteresse e descuido com a aparência também são sinais importantes.
“Além disso, os comentários negativos e recorrentes em relação ao futuro e as expressões e comentários que indiquem desejo de morrer são indicativos de que algo não está bem”, alerta a especialista. Ao detectar problemas, a recomendação é que os responsáveis busquem os serviços de Psicologia e Psiquiatria disponíveis em consultórios particulares, hospitais, clínicas especializadas, Unidades Básicas de Saúde ou em Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), para acolhimento e tratamento adequado.
Fique atento!
Cuidar da própria saúde mental é o ponto de partida para ser uma boa referência às crianças e aos adolescentes. Ao admitir não ter respostas e soluções para tudo, o adulto mostra que ninguém precisa enfrentar todos os desafios e medos sozinho;
– Um diálogo aberto é a chave para fortalecer os vínculos familiares, pois, estar atento às necessidades de afeto e presença é vital para o bem-estar;
– Esteja disponível para ouvir, oferecer apoio, respeitar cada sentimento e acolher com tranquilidade as expressões de emoções, mesmo que negativas, sem julgamentos;
– Valorize qualidades, aprendizados e superações, porque isso constrói a autoestima e fortalece o apoio familiar;
– Invista tempo de qualidade em família, promovendo o lazer e fortalecendo a ideia de pertencimento nesse círculo social. Assim, será possível amenizar a sensação de desamparo vivenciada em diferentes fases da vida;
– Respeite o momento em que a criança ou o adolescente quer estar sozinho, porque isso também favorece relacionamentos saudáveis.