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Achados incluem nova espécie de bactéria intestinal

Escrito por: Adenilde Bringel

Ao analisar a microbiota intestinal dos animais, os pesquisadores da UFRGS não observaram, inicialmente, qualquer diferença significativa em relação à diversidade. Entretanto, ao fazer o sequenciamento e a análise de beta-diversidade comparando os grupos foi possível perceber que havia uma semelhança da composição da microbiota intestinal entre os dois grupos tratados com prednisolona, independentemente das concentrações, e desses com o grupo que recebeu diazepam. O primeiro achado foi que a microbiota dos ratos que tiveram um efeito maior da prednisolona, ou seja, cujas crises foram reduzidas, tinha uma alteração na composição. “Quando os grupos tratados foram analisados mais especificamente, percebemos que não havia um aumento da abundância de táxons bacterianos, a exemplo dos grupos Firmicutes, Bacteroidetes e Proteobacteria. No entanto, observamos um aumento significativo na Verrucomicrobia, Candidatus_Saccharibacteria e Actinobacteria nos grupos tratados com diazepam e prednisolona em comparação ao grupo controle tratado com solução salina”, detalha a pesquisadora Amanda Muliterno Domingues Lourenço de Lima. Para os pesquisadores, esses aumentos podem estar relacionados à atividade protetora contra crises epilépticas e a processos inflamatórios que causam alguns casos de epilepsia.

Além disso, esses animais tinham outros grupos bacterianos aumentados, como Porphyromonadaceae, Verrucomicrobiaceae, ­Clostridiaceae_1, Erysipelotrichaceae, Eubacteriaceae, Lactobacillus, Barnesiella, ­Ruminococcus, Muribaculum intestinale, ­Akkermansia ­muciniphila e um grupo específico chamado de Saccharibacteria_genera_incertae_sedis TM7_phylum. A bactéria ­­Candidatus_Saccharibacteria (anteriormente conhecida como TM7) possui um genoma bastante reduzido e vive aderida a outras bactérias, como Actinomyces. Isso significa que o aumento de Actinobacteria e do grupo Saccharibacteria está associado. Embora não tenha capacidade de sintetizar aminoácidos, nucleotídeos, lipídeos e precursores da parede celular, representantes do grupo TM7 se utilizam do metabolis­mo da Actinobacteria e têm a capacidade de produzir biofilme. E a formação de biofilme é potencialmente benéfica para as bactérias hospedeiras como uma forma de escapar do sistema imunológico. Algumas evidências sugerem, ainda, que os representantes do TM7 são capazes de modular a resposta imune do hospedeiro, diminuindo a resposta pró-inflamatória e suprimindo diretamente a expressão de TNF-α. “Acho que o nosso grupo foi o primeiro a encontrar essa bactéria na microbiota intestinal em estudos com epilepsia. Embora seja uma bactéria recentemente identificada e com poucos estudos disponíveis, já se sabe que desempenha um papel significativo na evasão do sistema imunológico”, acrescenta.

Além disso, o grupo percebeu um aumento de alguns gêneros bacterianos como Akkermansia muciniphila, bactéria que já foi utilizada como probiótico em outros estudos. De acordo com a pesquisadora, um estudo publicado na revista Cell mostrou um experimento que utilizou Akkermansia associada com Parabacteroides e observou redução nas crises epilépticas em modelo animal submetido à dieta cetogênica. “Devido à sua capacidade de degradar a mucina, essa bactéria está associada com a modulação da produção de muco no intestino e consegue aumentar ou reduzir a espessura desse muco. Ao formar uma espécie de camada de bactérias e modular a espessura do muco intestinal, a Akkermansia contribui para a manutenção da barreira intestinal e acaba alterando a produção de alguns metabólitos e de moléculas com efeito anti-inflamatório. Por isso, é uma bactéria bastante relacionada com a modulação do sistema imune”, argumenta.

Ao analisar o tecido intestinal, foi verificado que houve aumento das citocinas Fator de necrose tumoral alfa (TNF-α) e interleucina 1-beta (IL-1β) – que sinalizam o sistema imunológico em relação à inflamação –, nos animais tratados com prednisolona. Portanto, o medicamento aumentou o tempo de latência das crises epilépticas e as concentrações de TNF-α e IL-1β, em comparação aos controles. “A prednisolona produziu resultados comparáveis aos do diazepam no aumento do tempo de latência para as crises, ­mostrando-se promissora para uso em estudos clínicos”, acentua a pesquisadora. Apesar dos achados, outros estudos são necessários para investigar a influência funcional que essas espécies têm na epilepsia e os processos inflamatórios que a desencadeiam, assim como as implicações para a prática clínica.

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