Pacientes com cardiopatias e familiares de crianças com o problema costumam ter receio de praticar exercícios físicos devido à possibilidade de sobrecarregar o sistema cardiovascular. No entanto, embora existam limitações conforme a cardiopatia, o paciente pode fazer atividades físicas com orientação do médico e supervisão de um profissional de Educação Física. Ao passar pela consulta médica, o profissional que acompanha a criança ou um cardiologista fará a avaliação para saber qual atividade, intensidade e tipo de cardiopatia, além de solicitar exames como teste ergométrico, ecocardiograma e raio-X do tórax. No caso dos esportes de alto rendimento como ciclismo, corrida de rua e futebol, é necessária avaliação médica mais rígida. Já os esportes com excesso de contato físico brusco tendem a ser contraindicados em alguns casos.
De acordo com a professora doutora Daniela Agostinho, coordenadora geral do Departamento de Educação Física da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo (SOCESP) e colaboradora em projetos de pesquisa na área de cardiopatia congênita no Instituto do Coração (InCor) da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HC-FMUSP), a vida normal para esses pacientes é possível porque, na maioria das vezes, passaram pelos procedimentos de correção das malformações congênitas do coração ainda bebês. “Quando não apresentam lesões residuais ou necessidade de novos reparos cirúrgicos estão liberados para praticamente todos os esportes recreativos, como andar de bicicleta, frequentar o parquinho e outras brincadeiras comuns da infância”, exemplifica.
Pesquisas mais recentes reforçam, sobretudo, a importância de essas crianças crescerem fisicamente ativas para não se tornarem adultos sedentários e com todas as complicações que o sedentarismo acarreta, a exemplo de obesidade, hipertensão e dislipidemia. “Há muitos pacientes jovens, de 20 anos a 40 anos, desenvolvendo síndrome metabólica com glicemia, colesterol e pressão arterial acima do indicado, assim como circunferência de abdômen no limite, pois, na infância, não podiam fazer nada. As estratégias de promoção de saúde devem ser adotadas e voltadas a esse grupo”, acentua a professora Daniela Agostinho. Assim, a prática de atividades físicas e de exercícios planejados, aliada à alimentação saudável e balanceada e ao controle de doenças psíquicas como ansiedade e depressão, é fundamental para uma vida mais saudável.
Avaliação médica criteriosa
Cinco critérios devem ser considerados durante a avaliação médica de um indivíduo com cardiopatia congênita que deseja praticar atividade física: função do coração, saturação de oxigênio em repouso e no esforço, arritmia, dilatação da aorta e pressão da artéria pulmonar. Outra variante a ser analisada são os dispositivos implantáveis, como o marcapasso, e o uso de anticoagulantes. Os profissionais devem seguir as diretrizes do 2020 ESC Guidelines on Sports cardiology and exercise in patients with cardiovascular disease, desenvolvido pela European Society of Cardiology, que traz recomendações de exercícios e critérios de elegibilidade para participação esportiva de atletas competitivos com doença cardiovascular. •