Relação entre microbiota e alergia em bebês

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Microbiota intestinal e alergia em bebês

Escrito por: Fernanda Ortiz

Várias hipóteses na literatura relacionam a redução da exposição microbiana ao aumento da prevalência de alergias. Para verificar a relação entre microbiota e alergia em bebês, pesquisadores irlandeses conduziram um estudo observacional prospectivo longitudinal. Denominado CORAL, o estudo envolveu bebês nascidos durante as medidas de distanciamento social impostas pela pandemia da Covid-19. De acordo com os achados, além de contribuir para o desenvolvimento da microbiota intestinal no início da vida, fatores ambientais e dietéticos podem estar relacionados a processos alérgicos.A hipótese inicial do estudo é que a exposição reduzida aos seres humanos e ao ambiente fora da família imediata, durante as restrições da pandemia, alteraria o desenvolvimento da microbiota intestinal dos bebês. Além disso, haveria uma associação a processos alérgicos. “Para testar essa teoria, realizamos o sequenciamento do marcador 16S rRNA no DNA fecal e comparamos o desenvolvimento da microbiota no coorte de bebês da pandemia com coortes infantis pré-pandêmicos”, descrevem os autores.

Durante o recrutamento e as avaliações semestrais, as famílias preencheram questionários online com informações epidemiológicas sobre o ambiente doméstico do bebê. Os dados incluíram número de familiares, presença de irmãos e de animais domésticos, tipo de habitação, cuidados infantis fora de casa e presença de fumante doméstico. Com relação à saúde infantil foram avaliados desmame, doenças, uso de antibióticos, contatos com SARS-CoV-2, hospitalização infantil, uso regular de medicamentos e estado de vacinação. Por fim, foram apuradas informações sobre sintomas e associações com doenças alérgicas, incluindo suspeitas de reações adversas a alimentos e dermatite atópica (DA).

Achados

Os pesquisadores destacam que a colonização da microbiota intestinal no início da vida dos bebês do estudo diferiu de coortes pré-pandêmicos. Entretanto, os resultados não apoiam a hipótese de que este desvio no desenvolvimento da microbiota resultou no aumento de doenças alérgicas. “Apesar das medidas de distanciamento social, a composição e o desenvolvimento geral da microbiota intestinal seguiram o padrão esperado para a maioria dos filos. Em resumo, os dados confirmam que a fonte mais importante de bifidobactérias benéficas em bebês é a mãe”, comentam os autores.

Os autores acreditam que o baixo uso de antibióticos e a alta prevalência de amamentação na coorte do estudo, provavelmente, tenha contribuído para níveis mais elevados de bifidobactérias, que oferecem efeito protetor contra infecções e reduzem o risco de doenças alérgicas. Observou-se, ainda, que a abundância relativa de Clostridium, bactérias produtoras de butirato (ácido graxo de cadeia curta com propriedades importantes em modular a resposta imune), foi menor na coorte do estudo em comparação às crianças pré-pandêmicas.

Alimentação

Após a aquisição de potenciais colonizadores, os hábitos alimentares influenciam o crescimento e o metabolismo das espécies microbianas no intestino. Os autores observam que a introdução precoce de alimentos potencialmente alergênicos, como amendoim e nozes, pode desempenhar um papel em seus efeitos protetores contra alergias. Os alimentos à base de plantas em geral tiveram efeitos semelhantes aos da amamentação na composição da microbiota, devido às fibras que contêm.

Em resumo, as análises confirmam que o desenvolvimento da microbiota intestinal infantil depende parcialmente da exposição a humanos, animais ou ambientes. “Acreditamos que o sistema imunológico imaturo das crianças pequenas não consegue responder com segurança à enorme diversidade microbiana decorrente dos fatores do estilo de vida moderno”, acentuam. Dentre estes estão nascimento por cesárea, ausência de amamentação em livre demanda e uso frequente de antibióticos. Assim, estes fatores podem, conjuntamente, ser responsáveis pelo aumento de doenças alérgicas.

Limitações

Embora demonstre uma relação entre microbiota e alergia em bebês, os autores ressaltam que este foi um estudo observacional de centro único, com crianças de tamanho moderado, altos níveis de renda e educação parental. “Por ter sido realizado sob as circunstâncias sociais extraordinárias das medidas de controle da pandemia, os resultados precisam ser validados externamente em outro ambiente e grupo populacional”, sinalizam os autores. O artigo ‘Association between gut microbiota development and allergy in infants born during pandemic-related social distancing restrictions’ foi publicado no European Academy of Allergy and Clinical Immunology (EAACI) em fevereiro de 2024.

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