Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) sugerem que, em 2060, um quarto da população brasileira terá mais de 65 anos. A estimativa, que segue as perspectivas em nível global, incentiva pesquisadores a procurarem caminhos para um envelhecimento saudável, minimizando danos orgânicos e alterações fisiológicas provocados pelo avanço da idade. O envelhecimento aliado a uma alimentação inadequada, genética e exposição a múltiplos fatores como estresse, poluição, tabagismo e etilismo, influencia ainda mais no aumento do estresse oxidativo. Neste contexto, estratégias de intervenção utilizando antioxidantes nutricionais têm sido pesquisadas com o objetivo de aumentar a capacidade antioxidante celular. Dentre esses nutrientes está a taurina, disponível principalmente em peixes e frutos do mar.
A suplementação com o aminoácido tem sido utilizada no tratamento de inúmeras condições, incluindo doenças neurodegenerativas como Alzheimer e Parkinson, epilepsia, insuficiência cardíaca, aterosclerose, hipertensão e diabetes. A taurina também possui ações importantes no metabolismo lipídico, efeitos protetores em processos inflamatórios e atividade antioxidante. O grupo de pesquisa em Nutrição, Metabolismo Energético e Exercício Físico da Escola de Educação Física e Esporte de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (EEFERP-USP) realiza trabalhos com a taurina desde 2008. Segundo a professora doutora Ellen Cristini de Freitas, líder do grupo, a ação antioxidante e anti-inflamatória significativa do aminoácido é relatada em trabalhos com mulheres entre 25 e 45 anos, e em atletas.
Devido aos resultados, o grupo passou a investigar o uso do aminoácido no envelhecimento, com um estudo envolvendo mulheres na pós-menopausa. “O aumento de oxidação é um processo fisiológico associado ao envelhecimento, assim como a inflamação. E, quando comparados os grupos, percebemos que os idosos mantêm um nível mais baixo de taurina do que os mais jovens, provavelmente devido ao avanço da idade”, enfatiza a docente, que orientou o estudo ‘Taurine as a possible antiaging therapy: A controlled clinical trial on taurine antioxidant activity in women ages 55 to 70’. Desenvolvido por Gabriela Ferreira Abud, atual doutoranda pelo Programa de Pós-Graduação em Nutrição e Metabolismo da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP-USP), o experimento envolveu 24 mulheres com idade média de 62 anos. Metade recebeu suplementação de 1,5g de taurina e metade foi suplementada com placebo por 16 semanas.
Todas realizaram avaliações de antropometria, testes de capacidade funcional, níveis de minerais, de taurina e de marcadores de estresse oxidativo determinados no plasma no período pré e pós-intervenção nutricional. Além disso, foi realizada análise da ingestão alimentar antes, durante e após o período de intervenção. A conclusão mostra que, nas mulheres que fizeram uso da suplementação do aminoácido, aumentaram os níveis plasmáticos de taurina e da enzima superóxido dismutase (SOD) – que protege a célula das reações danosas do radical superóxido –, sugerindo que a suplementação poderia ser uma estratégia importante no controle do estresse oxidativo durante o processo de envelhecimento.
Quantidade
“Essas enzimas são um fator de proteção natural do organismo, mas são produzidas quando aliadas com a condição nutricional, ou seja, é necessária uma dieta com alimentos ricos em magnésio, ferro, zinco e selênio. Infelizmente, os idosos são um grupo que tem alimentação empobrecida, o que pode ser fator de piora para a oxidação. Além disso, é preciso cuidar da microbiota, que é a responsável pela absorção dos nutrientes, inclusive da taurina”, enfatiza a pesquisadora. A quantidade diária ideal de consumo do suplemento ainda está sendo avaliada pelo grupo, que já desenvolve um novo estudo envolvendo mulheres idosas com obesidade e sarcopenia. Neste experimento, vão utilizar 3g de taurina para avaliação dos efeitos colaterais. A docente lembra que a qualidade da taurina também é essencial para os resultados e, quanto mais pura, melhor. Por isso, a sugestão é sempre pedir orientação a um nutricionista. O estudo foi publicado na revista Nutrition.
Desequilíbrio orgânico
O envelhecimento desencadeia alterações fisiológicas em tecidos, órgãos e sistemas que envolvem mudanças na composição corporal, como perda óssea, catabolismo muscular, aumento de gordura corporal, alterações digestivas e falha na absorção de nutrientes, além do acúmulo de danos celulares ao longo do tempo. Esses prejuízos nas células estão associados com o desequilíbrio entre os sistemas pró-oxidante e antioxidante do organismo, refletindo no aumento do estresse oxidativo. Esse desequilíbrio favorece a produção aumentada de espécies reativas de oxigênio (EROs) que, em altas concentrações, pode resultar no mau funcionamento do sistema de reparo celular, contribuindo para o desenvolvimento de doenças crônico-degenerativas não transmissíveis como alguns tipos de câncer, Alzheimer, Parkinson, esclerose múltipla, distúrbios cardiovasculares, osteoporose, diabetes tipo 2 e hipertensão arterial.