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Pausa importante para a saúde mental

Escrito por: Fernanda Ortiz

O ­­­­silêncio pode ser considerado um instrumento de autoconhecimento, pois fornece a cada indivíduo tempo para pensar, observar, sentir, aprender e evoluir. Através do silêncio é possível ter a atenção voltada aos próprios pensamentos, às emoções e reações físicas e emocionais. No silêncio também é possível identificar as próprias dores, angústias, forças, alegrias e fraquezas. No entanto, em meio à vida agitada preenchida com ruídos dos mais diversos, ter momentos de silêncio parece algo cada vez mais raro e desafiador. A sociedade atual se acostumou a conviver com barulhos do trânsito, buzinas, sirenes e, mais recentemente, com as intermináveis notificações sonoras do celular, entre tantos outros sons que coexistem nesse intenso frenesi. Entretanto, especialistas afirmam que a quietude traz a possibilidade de evoluir a consciência, fazendo com que as reflexões e ações deixem de ser automáticas e passem a ser percebidas e executadas com mais clareza. E isso permite o progresso do autoconhecimento, que é fundamental na busca pela saúde mental.

O excesso de exposição sonora é tão integrado na forma de viver que os indivíduos não percebem quanto a mente necessita de momentos de calmaria para se reorganizar, criar e conectar. Mas, embora pareça uma tarefa difícil, vivenciar pausa, calma e contemplação é possível e necessário. E o caminho para experimentar a quietude, mesmo que em curtos períodos do dia, depende exclusivamente de escolhas individuais. Portanto, quando a rotina segue um fluxo intenso de atividades e as pressões não param de aumentar é preciso desconectar, mesmo que por um curto período, já que essa pausa pode ser importante para estabilizar as demandas e atividades do dia, buscando o ­bem-estar emocional.

Para o psicólogo Bruno Chapadeiro Ribeiro, professor adjunto da Universidade Federal Fluminense (UFF), esse excesso de ruído constante impede as pausas contemplativas. “As pausas de epifania nas quais surgem as boas ideias, em que podemos encontrar respostas ou mesmo desestressar, de certa forma, revelam quem somos e são fundamentais à saúde física e mental”, comenta. Como a vida moderna estimula o ser humano ininterruptamente das mais variadas formas, os momentos de silêncio e introspecção são cada vez mais escassos. Nesse sentido, o silêncio pode ser aliado para combater o excesso de estímulos e proporcionar um equilíbrio que permita, por exemplo, desacelerar, melhorar a concentração e o foco, relaxar, ter uma boa noite de sono e, inclusive, ampliar a visão de vida.

Entretanto, não adianta ficar em silêncio se os dedos e a mente estiverem ocupa­dos no celular com as questões diárias, com as atualizações das redes sociais, com os vídeos infinitos que não ­param de ‘correr’ e com as mensagens que continuam a chegar. “O silêncio pode ser alcançado a qualquer momento, seja sentindo a respiração, na meditação, na oração, durante uma caminhada, contemplando o pôr do sol, vendo a chuva cair, em breves intervalos no ambiente de trabalho e até mesmo enquanto se faz uma refeição”, garante o médico psiquiatra Rafael Manrique, mestrando da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Da mesma forma, o silenciar da mente favorece que o espaço entre pensamentos aumente gradualmente, levando o indivíduo a experienciar sensações de tranquilidade e bem-estar e, assim, permitindo um olhar mais assertivo sobre os acontecimentos da vida.

O psicólogo Bruno Chapadeiro Ribeiro acredita que, provavelmente, um dos maiores benefícios do silêncio é a capacidade de poder ouvir a si e a outras pessoas. “É preciso estar em silêncio enquanto o pensamento e as formas de expressão do outro são construídas. Quando a nossa atenção fica inteiramente voltada a ouvir e compreender as palavras e os anseios do outro, isso ajuda as pessoas a se sentirem mais à vontade para compartilhar informações, saberes e sentimentos”, destaca. Essa escuta ativa e atenta demonstra preocupação, cuidado e interesse, podendo ser determinante, inclusive, para ampliar diálogos e identificar dores que necessitam de mais atenção.

Medo do silêncio

Apesar de todos os benefícios, o vazio que a ausência de ruído sugere, assim como a implicação de entrar em contato com o ‘eu’ interior, pode ser intimidante para algumas pessoas. “Provavelmente, o medo do silêncio seja o de estar intimamente em contato com algo que nos recusamos a ver e compartilhar; são as dificuldades que, possivelmente, se tenha na biografia pessoal e que são difíceis de lidar”, avalia o psicólogo Bruno Chapa­deiro Ribeiro. Nesses casos, mesmo quando se encontra em um silêncio aparente e sem nenhum ruído que preencha os sentidos, o indivíduo recorre a recursos para fugir de pensamentos e de sensações que o aflige. De acordo com o especialista, isso evidencia a maneira como cada um possui recursos para olhar para o que lhe provoca angústia. Além disso, o medo e a fuga da quietude, assim como o excesso de silêncio por períodos prolongados, precisam ser observados, pois podem desvelar outras formas de sofrimento mais profundas que merecem uma linha de cuidado mais apurada.

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