O resultado de uma subanálise do Estudo Longitudinal de Saúde do Adulto (ELSA-Brasil) – investigação multicêntrica conduzida a partir de dados de funcionários e professores de seis instituições públicas de ensino superior e de pesquisa do País – mostrou que indivíduos normotensos e resistentes à insulina apresentaram chance 150% maior de evoluírem para um quadro de hipertensão arterial sistêmica. O aumento do risco de hipertensão também foi encontrado quando analisadas apenas pessoas sem sobrepeso ou obesidade. Esses resultados foram descritos no artigo ‘Association of hypertension and insulin resistance in individuals free of diabetes in the ELSA-Brasil cohort’, publicado recentemente no periódico Scientific Reports. O estudo avaliou 4.717 adultos com média de idade de 48 anos (67% mulheres) e sem diabetes. Além disso, foram excluídos das análises os participantes com hipertensão ou pré-hipertensão prévias ou histórico de doenças cardiovasculares.
“Com seguimento médio de 3,8 anos, avaliamos que a resistência à insulina aumentou o risco de desenvolver pré-hipertensão e hipertensão em 51% e 150%, respectivamente. Além disso, analisamos que a RI foi capaz de prever a incidência de pré-hipertensão e hipertensão em indivíduos com IMC normal, revelando-se um fator de risco independente de sobrepeso ou obesidade”, destaca a médica endocrinologista Luísa Lima Castro Schütze, mestre e doutora em Saúde do Adulto pela Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e principal autora do estudo. Para identificar os casos de RI na coorte analisada, os pesquisadores utilizaram o índice de resistência à insulina HOMA-IR, escolhido por ser um método validado pela técnica de clamp euglicêmico-hiperinsulinêmico e determinado através de fórmulas matemáticas que estão relacionadas com a quantidade de açúcar no sangue e de insulina produzida pelo organismo.
Dos participantes, 36% apresentavam sobrepeso e 11% obesidade. A pesquisadora destaca que dados prévios já haviam sugerido que poderia haver uma interação entre índice de Massa Corporal (IMC) e RI em relação à sua capacidade de predizer hipertensão. Quando os modelos foram realizados com indivíduos acima do IMC ideal, a RI deixou de ter associação significativa com os desfechos sugerindo que, em indivíduos com sobrepeso/obesidade, a resistência à insulina isoladamente não teria impacto adicional no desenvolvimento de pré-hipertensão ou hipertensão. “No entanto, os dados analisados mostraram um risco aumentado para pré-hipertensão e hipertensão nos indivíduos sem sobrepeso ou obesidade, sugerindo que a RI prediz níveis pressóricos aumentados independentemente do IMC”, avalia. Tal achado sugere, portanto, que a RI pode ser um marcador mais precoce do que sobrepeso/obesidade para o desenvolvimento de hipertensão.
Este foi o primeiro estudo prospectivo multicêntrico a avaliar o impacto da RI no desenvolvimento de pré-hipertensão e hipertensão em indivíduos sem diabetes na América Latina. Outros diferenciais são o grande número de participantes e a abrangência dos dados coletados, que permitiu avaliar potenciais fatores de confusão e diversidade sociodemográfica inerente à população brasileira. “Embora composto por residentes em seis municípios do País, uma possível limitação do estudo seria não incluir todo o espectro da população, por exemplo, indivíduos de muito baixa renda ou desempregados”, comenta a pesquisadora. A amostra também foi composta predominantemente por mulheres, pessoas brancas e indivíduos com maior escolaridade. Entretanto, os achados foram considerados muito satisfatórios e reforçam a importância de aumentar os esforços para promover qualidade de vida através de hábitos mais saudáveis. •