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O perigo presente nas dietas restritivas

Escrito por: Elessandra Asevedo

A ­­­­obesidade é uma doença que tem aumentado em todo o mundo. No Brasil, aproximadamente 60% dos adultos apresentam excesso de peso, o que representa cerca de 96 milhões de pessoas. Além disso, um em cada quatro brasileiros tem obesidade, somando mais de 41 milhões de indivíduos, segundo a Pesquisa Nacional de Saúde (PNS/2020). Os dados são alarmantes porque o excesso de peso causa impactos em diferentes áreas, como diminuição da qualidade de vida, perda de produtividade, mortalidade precoce e problemas relacionados às interações sociais. Para agravar a situação, muitas pessoas estão optando por dietas restritivas e sem orientação que prometem resultados rápidos, mas que, na verdade, geram ainda mais prejuízos para a saúde.

De acordo com o médico endocrinolo­gista Ricardo Barroso, diretor da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia – Regional São Paulo ­(SBEM-SP), a alimentação é a gênese das patologias atuais, resultado de um estilo de vida no qual as pessoas têm menos tempo de preparar a refeição e optam por preparações mais práticas, afastando-se dos padrões que valorizam a comida de verdade. Além disso, há muitos alimentos processados mais baratos e palatáveis que estimulam esse consumo. “A Medicina consegue controlar algumas doenças com vacinas e antibióticos, mas o hábito alimentar está seguindo no sentido contrário da evolução. Como resultado, observamos diferentes doenças que têm relação com a má alimentação, a exemplo de câncer, doença de Alzheimer e enfermidades cardiovasculares”, pontua.

Embora seja necessária uma mudança nos hábitos alimentares, as dietas com restrição – seja de quantidade, qualidade ou exclusão de grupos de alimentos – não são indicadas, principalmente sem orientação médica. Essas dietas restritivas geralmente são hipocalóricas e podem não atingir a necessidade nutricional individual, principalmente em relação aos micronutrientes (vitaminas e minerais), desencadeando deficiências ­nutricionais que podem trazer perigos à saúde. A professora doutora Eline de Almeida Soriano, médica nutróloga, docente de pós-graduação e diretora da Associação Brasileira de Nutrologia (Abran), lembra que as deficiências de vitaminas e minerais podem causar queda de imunida­de, anemia, osteoporose, insuficiência cardíaca e até quadros neurológicos graves, assim como arritmias cardíacas.

“As mais importantes são as deficiências dos micronutrientes, como vitamina C, vitaminas do complexo B e as lipossolúveis como A, D, E e K, além de minerais como ferro, zinco, cobre, cálcio e selênio, que são os primeiros atingidos quando se restringe muito a alimentação. Além disso, as dietas restritivas causam deficiências de macronutrientes como carboidratos, proteínas e gorduras”, alerta. A falta de tiamina (vitamina B1), por exemplo, pode desencadear um quadro de insuficiência cardíaca, sobrecarregando o ­coração e os rins. Com as dietas muito hipocalóricas, o fígado começa a metabolizar ácidos graxos (gordura) como fonte de energia e vai ficando sobrecarregado. As deficiências nutricionais mais graves geram edema, palidez de pele e mucosas, palpitação, ansiedade, irritabilidade, queda de cabelo e unhas fracas. Dependendo do tempo de restrição alimentar podem surgir fraqueza, tontu­ra e alteração do padrão respiratório.

O nutricionista Jônatas de Oliveira, pesquisador e doutorando em Ciências pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), lembra que as deficiências calórico-proteicas, em muitos momentos, são sinalizadas na forma de fome. Mas, diferentemente de um carro que chega à reserva e para, o corpo vira um poupador de energia e utiliza massa muscular para garantir a sobrevivência, em um processo análogo à desnutrição. “Em longo prazo, o corpo acumula muita gordura e, com isso, desenvolve um mecanismo que dificulta a perda de peso a cada dieta. Além disso, o acúmulo de gordura sobrecarrega o organismo e interfere no sistema cardiovascular, nas doenças e na autoestima”, alerta.

Transtornos alimentares

Alguns especialistas acreditam que as dietas restritivas também podem ter ligação com transtornos alimentares. A nutróloga Eline de Almeida Soriano explica que, após uma dieta restritiva, o indivíduo volta a comer com mais fome, mais voracidade e, muitas vezes, perde o controle diante da comida, passando a ingerir grandes quantidades em curto espaço de ­tempo. “Em geral, o comer em exagero vem acompanhado do senti­mento de culpa e, às vezes, seguido de métodos compensatórios como ­vômitos e práticas extenuantes de exercício ­físi­co, caracterizando a bulimia nervosa”, ­detalha.

O endocrinologista Ricardo ­Barroso acentua que indivíduos com transtorno alimen­tar já buscam uma alimentação restrita, e quem tem pré-disposição ­acaba vendo essa condição ser agravada pela dieta. “Nestes casos, é fundamental o acompanhamento de nutricionista, endocrinologista e até psicólogo para ajudar com a frustação e incentivar o indivíduo a ter uma alimentação mais saudável”, reforça. Encarar a obesidade como doença crônica também pode evitar dietas restritivas que prometem perda de peso em pouco tempo. Além disso, é preciso levar em consideração que, com o envelhecimento, há uma mudança lenta e gradativa da composição corporal, principalmente na mulher – embora os homens também sintam as alterações perto da andropausa, com perda da musculatura e ganho da gordura abdominal gerada pelas alterações metabólicas.

Para o nutricionista Jônatas de­ Oliveira, quem inicia uma dieta por causa do sofrimento tem consequências negativas, como aumento do desejo por comida, ansiedade em comer, recusa de participar de eventos que envolvam comida e hábito de comer escondido. “Não faz parte do padrão normal sentir vergonha ou culpa quando se come, e isso acaba tornando negativa uma ­necessidade vital. O comportamento sociocultural faz julgar a comida por engor­dar, ­retiran­do itens importantes da alimenta­ção”, lamenta.

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