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Diálise peritoneal

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Diálise peritoneal possibilita tratamento domiciliar

Escrito por: Fernanda Ortiz

A doença renal crônica é uma condição grave e muitas vezes silenciosa. Segundo dados da Sociedade Internacional de Nefrologia, nos últimos 17 anos a enfermidade registrou um aumento de 42% na taxa de mortalidade, tornando-se um dos motivos predominantes de óbitos em todo o mundo. Para sobreviver  à ausência de funcionalidade dos rins, os pacientes dependem de terapias de diálise. Assim, a máquina substitui a função renal ao filtrar e eliminar substâncias prejudiciais ao organismo. Com a possibilidade de realizar o tratamento em casa e com segurança, a diálise peritoneal (DP) é uma modalidade alternativa à hemodiálise tradicional, que entrega os mesmos benefícios. Entretanto, ainda é pouco acessível no Brasil.

Na diálise peritoneal é utilizado como filtro natural o peritônio (que reveste paredes e superfície dos órgãos abdominais), em substituição à função renal. Segundo o médico nefrologista Yussif Ali Mere Júnior, presidente da Associação Brasileira de Centros de Diálise e Transplantes (ABCDT), uma parte do peritônio é utilizada como dialisador. “Nesse processo, a água e os solutos de diálise são colocados na cavidade e drenados lentamente através de um cateter de Tenckhoff (tubo biocompatível), permanente e indolor”, explica. A solução infundida entra em contato com o sangue, permitindo que substâncias acumuladas como ureia, creatinina e potássio sejam removidas, assim como o excesso de líquido não drenado pelo rim.

O tratamento pode ser realizado manualmente, por meio da Diálise Peritoneal Ambulatorial Contínua (DPAC), ou automaticamente através da Diálise Peritoneal Automatizada (DPA). “Na DPAC, as trocas (entre 4 e 5) ocorrem habitualmente durante o dia. Cada uma delas demora entre 20 e 30 minutos, podendo ser ajustadas de acordo com a rotina do paciente”, descreve o especialista. Por outro lado, as trocas da DPA ocorrem à noite com a ajuda de uma máquina cicladora que infunde e drena o líquido. Para isso, antes de dormir o paciente se conecta à máquina (entre 8 e 10 horas), que realiza as trocas automaticamente de acordo com a prescrição médica.  De manhã, fica livre para realizar as suas atividades diárias.

Indicações

A diálise peritoneal pode ser indicada para pacientes que apresentam quadros de insuficiência renal aguda ou crônica. Para isso, precisam atender aos critérios avaliados pelo médico nefrologista. Entre eles estão exame clínico para investigação de sintomas e estado de saúde geral; exames laboratoriais para verificação de dosagem de ureia, creatinina, potássio e ácidos no sangue, quantidade de urina produzida durante um dia e uma noite (urina de 24 horas). Além disso, é preciso avaliar o cálculo da porcentagem de funcionamento dos rins (clearance de creatinina e ureia) e a presença de anemia (hemograma, dosagem de ferro, saturação de ferro e ferritina). “A partir da análise de todos resultados, tipo de patologia, estado clínico e estilo de vida do paciente é que o médico responsável indicará o tipo de diálise mais adequado a condição”, observa o especialista.

Higiene rigorosa

Na diálise peritoneal é fundamental seguir rigorosas técnicas de higiene para impedir a entrada de microrganismos através do cateter, da extensão do cateter ou durante a ligação da bolsa. Portanto, os cuidados diários com a pele e o cateter são essenciais. “A presença de pequenas fissuras, por exemplo, facilita a entrada de organismos nocivos ao organismo e à circulação sanguínea. Isso aumenta os riscos de infecção, a exemplo da peritonite, que é a inflamação no peritônio”, alerta o médico nefrologista. Por esse motivo, uma boa fixação do cateter é extremamente importante.

Desafios para aumentar o acesso

Segundo o presidente da ABCDT, atualmente apenas 5% dos pacientes renais crônicos atendidos pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e 9% da saúde suplementar têm acesso à diálise peritoneal. Portanto, aumentar a oferta desse tratamento, que oferece mais autonomia e bem-estar aos pacientes, é um desafio que envolve políticas públicas, participação de especialistas nos debates técnicos e alto incentivo econômico. “É preciso treinar enfermeiros e nefrologistas adulto e pediátrico nesta modalidade. Ademais, é necessário criar centros de referência em implantes de cateter de DP; aumentar recursos para as clínicas de diálise; extinguir a tributação sobre compra de materiais de tratamento, como as bolsas de diálise; e incluir no Brasil as novas tecnologias desta modalidade”, enumera. Por tudo isso, repensar e otimizar a difícil jornada do paciente com doença renal crônica é uma medida urgente e necessária.

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