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Estudo avaliou o microbioma de pacientes

Escrito por: Adenilde Bringel

Com o uso de técnicas de sequenciamento metagenômico de amostras fecais que analisa organismos microbianos presentes em um nicho ecológico específico, a médica geneticista Diana Marcela Mejía Granados desenvolveu um estudo para caracterizar a composição do microbioma intestinal de 96 indivíduos com diferentes formas de epilepsia e encefalites autoimunes. A tese de doutorado ‘Caracterização do microbioma intestinal em pacientes com diferentes formas de epilepsia e nas encefalites autoimunes mediante análise metagenômica’, defen­dida em 2022 no Programa de Pós-­graduação em Fisiopatologia Médica da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas ­(HC-Unicamp), em São Paulo, envolveu pacientes atendidos no Hospital das Clínicas da Instituição. Os participantes foram divididos em quatro grupos e um dos critérios era que os controles morassem nas mesmas residências para que tivessem a mesma dieta e os mesmos hábitos e estilo de vida dos pacientes, fatores que influenciam no padrão de microbiota.

Os participantes foram divididos nos grupos epilepsia do lobo temporal mesial (ELTM), epilepsia genética generalizada (EGG), encefalite autoimune (EA) e controle (GC), para que os pesquisadores pudessem avaliar três fenótipos diferentes da doença. Na ELTM, um tipo facilmente reconhecido, o tipo de crise comumente se apresenta como uma sensação de mal-estar epigástrico ascendente, algumas vezes caracterizada como dor, opressão ou frio na região epigástrica ou torácica. Neste tipo de crise, o comprometimento da consciência é frequentemente observado e se caracteriza por variações na reatividade e responsividade ao ambiente, podendo-se observar automatismos oro-alimentares e manuais com ocasional postura distônica. Já os pacientes com epilepsias genéticas generalizadas têm, como fenótipo principal, pequenas mioclonias (espasmos musculares involuntários). “Esse é um tipo de epilepsia de melhor prognóstico e com um quadro não tão assustador quando alguém está em crise. Neste grupo estão pacientes mais jovens e com uma melhor resposta ao tratamento com os fármacos antiepilépticos”, descreve a médica Diana Marcela Mejía Granados.

As encefalites autoimunes são síndromes com uma apresentação mais aguda ou subaguda. O indivíduo começa com alteração da memória e da consciência, alterações com sintomas psiquiátricos e, no final, pode ter as crises. No estudo, os pesquisadores chamaram esse grupo de epilepsias imunomediadas porque, às vezes, os pacientes já têm algum transtorno de base como lúpus, tireoidite, artrite ou diabetes tipo 1. “Portanto, neste grupo já sabemos que há um fator inflamatório, um autoanticorpo que está induzindo essa resposta inflamatória. Há um estudo que demonstrou que os pacientes com epilepsia têm citocinas pró-inflamatórias no plasma. Então, de alguma forma, essas citocinas induzem a epileptogênese”, argumenta a autora do estudo.

Resultados – Depois de colher as amostras de fezes dos participantes, os pesquisadores realizaram um sequenciamento do gene ribossômico 16S rRNA. O primeiro achado foi que realmente existem diferenças entre a composição dos controles e a composição do grupo dos pacientes com epilepsia. “Isso pode ocorrer porque pacientes com epilepsia são polimedicados e esses medicamentos tendem a causar um efeito na microbiota e até mesmo depletar algumas populações de bactérias. Outra hipótese é que pacientes com epilepsia tentam seguir uma dieta um pouco mais balanceada, evitando ingestão de álcool e de gordura, por exemplo, que comprovadamente modificam a microbiota”, relata. A médica lembra que a diversidade microbiana relativamente baixa está associada à epilepsia refratária a drogas, principalmente em população pediátrica, e a outras condições ligadas ao sistema nervoso central – incluindo doença de Alzheimer, esclerose múltipla e doença de Parkinson.

No grupo ELTM, os cientistas ­encontraram alguns representantes dos ­gê­ne­­ros Oxalobacteraceae_unclassified,­ Butyricimonas, ­Victivallis, ­Akkermansia, Clostridium_IV, Methanobrevibacter, ­Lactobacillus e Subdoligranulum, também associados à refratariedade ao tratamento. “O crescimento excessivo do gênero Akkermansia pode ­promover a degradação excessiva da mucina, levando a um aumento da permeabilidade epitelial que, por sua vez, pode afetar as vias de sinalização do eixo microbiota-­intestino-cérebro. Além disso, diversos metabólitos ou componentes da ­parede celular de bactérias do filo ­Proteobacteria podem desencadear processos neuro­inflamatórios, um sinal cardinal na encefalite autoimune”, explica a auto­ra do estudo. Já os microrganismos pertencentes ao filo ­Proteobacteria, como Pasteurellaceae_­unclassified e ­Desulfovibrio, ­apareceram mais em pacientes com encefalite ­auto­imune em comparação com o ­grupo controle.

Os resultados mostraram, ainda, uma estrutura taxonômica típica com predomínio de Firmicutes, Bacteroidetes, ­Actinobacteria, Bacteria_unclassified, Verrucomicrobia e Proteobacterias na casuística analisada. Além disso, foram detectados enterótipos considerados raros, incluindo Lentisphaerae e Euryarchaeota. “Também descobrimos que microrganismos do gênero Oxalobacteraceae foram mais abundantes em pacientes com ELTM, o tipo de epilepsia caracterizado por uma alta proporção de pacientes com fenótipos resistentes a medicamentos. Em estudos anteriores, um aumento no filo Proteobacteria foi associado à epilepsia refratária”, destaca. Outro achado no grupo controle foi uma predominância do gênero ­Faecalibacterium, que contribui com o metabolismo dos carboidratos e lipídeos. Essa bactéria produtora de butirato tem sido associada a um amplo benefício para a saúde envolvendo o metabolismo energético, a inibição de histonas desacetilases e a regulação positiva de citocinas anti-inflamatórias.

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