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Alta incidência na população em geral

Escrito por: Elessandra Asevedo

As maiores taxas de incidência de câncer de estômago têm sido observadas na Ásia Oriental, Europa Central, Europa Oriental e América do Sul sendo que, no Brasil, as taxas mais elevadas ocorrem na região Sul. Essa neoplasia tem como principal causa a infecção pela bactéria Helicobacter pylori, particularmente prevalente na África, América Latina e Ásia. O artigo ‘Fatores de risco do câncer gástrico: Revisão de literatura’, realizado em parceria por pesquisadores de diferentes universidades brasileiras e publicado no The Research, Society and Development Jornal, aponta estudos epidemiológicos que demonstram o risco aumentado de até seis vezes para o desenvolvimento de adenocarcinoma gástrico em indivíduos infectados pela bactéria.

A gastroenterologista e oncologista Nora Manoukian Forones informa que a maioria dos indivíduos infectados pela Helicobacter pylori não apresenta sintomas. “A pessoa se infecta ao comer alimentos que possuem a bactéria, por isso, é importante lavar bem os itens crus, como verduras e frutas e, se possível, deixar 20 minutos de molho no hipoclorito de sódio”, orienta. Pesquisadores também trabalham para o desenvolvimento de uma vacina contra essa bactéria, que será essencial para diminuir os casos de câncer gástrico. Mas, até o momento, os pacientes têm à disposição apenas o tratamento com antibiótico.

O consumo excessivo de carne bovina frita, grelhada ou assada é outro fator de risco para o câncer gástrico, porque a exposição ao calor produz componentes carcinogênicos na superfície da carne, como hidrocarbonetos aromáticos policíclicos e aminas heterocíclicas. “Excesso de peso e obesidade, alimentação composta de embutidos e enlatados, baixa ingestão de fibras, frutas e vegetais, consumo frequente de bebida alcoólica e tabagismo podem contribuir para o surgimento da doença”, enfatiza o oncologista Tiago Felismino.

De acordo com o INCA, a neoplasia de esôfago é mais incidente nos homens. Um fator que merece atenção é o refluxo gastroesofágico, que promove a queimadura química do epitélio do esôfago mudando sua característica de tecido escamoso para se tornar intestinalizado, com um tecido parecido com o do intestino. Essa mudança, denominada esôfago de Barrett, é considerada uma lesão pré-maligna para o câncer de esôfago. “A doença tem índice de letalidade alto por causa da localização do tumor e necessita de tratamento cirúrgico, como a retirada do esôfago”, reforça o gastroenterologista Áureo Delgado. Pâncreas e fígado têm número estimado de casos novos de 10.980 e 10.700, respectivamente, para cada ano do triênio 2023-2025 no Brasil.

A neoplasia no pâncreas normalmente não leva ao aparecimento de sinais e sintomas nos estágios iniciais. “Em razão do diagnóstico tardio, o prognóstico é ruim para o paciente, com expectativa de vida entre 6 e 12 meses”, alerta o médico Áureo Delgado. A sobrevida melhora com a introdução da terapia-alvo no tratamento do câncer de pâncreas, mas 95% dos casos ainda não têm cura. Por ter íntima relação com tabagismo, obesidade, genética, diabetes mellitus tipo 2, pancreatite e etilismo crônicos, o ideal para prevenir a doença é evitar esses hábitos e fazer uma avaliação médica anual do aparelho digestivo, principalmente após os 50 anos de idade.

O oncologista Tiago Felismino acentua que a maioria dos casos de câncer de fígado ocorre em razão das hepatopatias crônicas ligadas a infecções pelos vírus das hepatites B e C e por doenças metabólicas, devido ao acúmulo de gordura no fígado e ao diabetes tipo 2. “É importante lembrar que existe vacina contra a hepatite B, que é muito eficaz e segura”, esclarece. Outros fatores de risco também envolvem bebida alcoólica, tabagismo, obesidade e consumo de alimentos que contenham aflatoxina, um tipo de fungo que pode estar presente na mandioca, no milho e no amendoim quando armazenados de forma inadequada.

Taxa de sobrevivência

Segundo dados do INCA, nos países com alto IDH, intervenções relacionadas a prevenção, detecção precoce e tratamento têm melhorado as taxas de incidência e mortalidade pelo câncer. No entanto, em países em transição para o desenvolvimento, as taxas seguem aumentando ou, no máximo, mantendo-se estáveis. Dados da Organização Pan-americana de Saúde (OPAS) mostram que aproximadamente 70% das mortes por câncer ocorrem em países de baixa e média renda. Enquanto na América do Norte a taxa de sobrevivência de crianças com câncer, por exemplo, ultrapassa 80%, na América Central e no Caribe esse número é de apenas 45%.

Os gastos com a assistência oncológica também vêm crescendo de forma expressiva e ameaçam a viabilidade financeira dos sistemas de saúde. Em 2040, se nada for feito e a tendência de aumento de casos se mantiver na mesma velocidade, o INCA projeta que o governo federal gastará R$ 7,84 bilhões com pacientes oncológicos. Entre as estratégias de controle da doença, a prevenção primária é a única capaz de diminuir os casos novos e as mortes, sendo considerada pelos especialistas como o melhor custo-benefício em longo prazo. Isso inclui adotar um modo de vida mais saudável e diminuir (ou evitar) a exposição às substâncias causadoras de câncer.

No Brasil, na última década também houve um aumento expressivo de informações e campanhas sobre os vários tipos de câncer e de orientação para a população buscar ajuda médica a qualquer sinal de que há algo diferente com o corpo. “Infelizmente, nem sempre existem recursos de diagnóstico e tratamento em todo o território nacional para atender à demanda, o que reforça a necessidade de que sejam criadas políticas públicas com foco na doença e na medicina preventiva”, afirma a gastroenterologista e oncologista Nora Manoukian Forones.

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