A doença inflamatória intestinal (DII) é um tipo de inflamação crônica recorrente do intestino que envolve respostas imunológicas anormais, sendo as principais a retocolite ulcerativa e a doença de Crohn. As causas do início da DII são complexas, com múltiplos fatores que envolvem o sistema endócrino, a imunidade e a microbiota intestinal, além de questões psicológicas. Desde o início do século, a DII se tornou um problema global de saúde pública.
Os pesquisadores têm observado os efeitos interativos bidirecionais entre fatores psicológicos e as doenças. O eixo cérebro-intestino-microbiota é uma via importante para a comunicação entre o cérebro e o intestino, desempenhando um papel no desenvolvimento da doença inflamatória intestinal. Dentro desse contexto, pesquisadores chineses realizaram uma revisão científica sobre o mecanismo pelo qual os distúrbios psicológicos mediam a DII e afetam o eixo cérebro-intestino-microbiota.
De acordo com os pesquisadores, mudanças na microbiota intestinal podem ser tanto causa quanto consequência da inflamação intestinal. Portanto, explorar as mudanças no sistema nervoso central durante a disbiose relacionada à doença inflamatória intestinal é particularmente importante para obter uma melhor compreensão da patogênese das comorbidades da mente e do corpo. “Além de entender essas comorbidades por meio do eixo microbiota-intestino-cérebro, queremos atender às necessidades de tratamento individualizado na DII, descrevendo algumas estratégias de tratamento não tradicionais”, explicam os autores.
Cérebro-intestino-microbiota
O artigo explorou os possíveis mecanismos e fatores de influência da ativação da via intestino-cérebro que levam a mudanças psicológicas em pacientes com DII. Além disso, os autores resumiram o papel regulador bidirecional do eixo cérebro-intestino-microbiota. Logo após, com foco na relação entre mudanças psicológicas antes e depois do início da doença inflamatória intestinal e o desenvolvimento da doença, propuseram o conceito de tratamento psicossomático.
Sob o mesmo ponto de vista, foram analisados dados laboratoriais e clínicos atuais sobre a microbiota na DII, bem como estratégias potenciais de tratamento e de gerenciamento da progressão da doença que podem ser úteis para esses pacientes. “Os mecanismos pelos quais a interrupção da via intestino-cérebro leva a distúrbios psicológicos em pacientes com doença inflamatória intestinal são diversos, como a microbiota intestinal, a inflamação e o microambiente imunológico”, explicam.
Os autores acreditam ser necessário entender melhor as interações entre o cérebro e o intestino, incluindo a intersecção das vias neurais, imunológicas e metabólicas, para identificar melhor os potenciais alvos terapêuticos. Com efeito, em termos de aplicação clínica são necessárias estratégias de tratamento mais direcionadas para atender às necessidades individualizadas de pacientes com DII e transtornos psicológicos para, assim, atingir a meta de tratamento psicossomático. O artigo ‘From gut to brain: understanding the role of microbiota in inflammatory bowel disease’ foi publicado no periódico Frontiers em 2024.