O diagnóstico da epilepsia é clínico, realizado a partir de um exame físico geral e do histórico detalhado pelo paciente. Além disso, o auxílio de uma testemunha ocular – ou seja, um familiar ou um conhecido que tenha presenciado ou registrado um ou mais episódios, é importante para que a crise seja descrita em detalhes. Informações sobre idade de início das crises, fatores precipitantes e predisponentes, ocorrência de uma ou mais auras (manifestação sensorial inicial), bem como sintomas, duração, frequência, intensidade, questões do período pós-ictal e intervalo entre as crises devem ser informados ao médico especialista para auxiliar o diagnóstico.
Além das descrições sobre as crises convulsivas, é importante reconhecer situações que possam aumentar a suspeita clínica para causas externas ou condições indutoras. De acordo com a médica neurologista Carolina Machado Torres, febre e possibilidade de infecção do sistema nervoso central (sinais de meningite); reflexos anômalos, sugerindo lesão estrutural ou AVC; trauma cranioencefálico; uso de álcool ou drogas; intoxicações prévias; enfermidades crônicas que cursam com hipoglicemia, diabetes ou doença renal; desmaios e doenças neurológicas, cardiovasculares ou psiquiátricas não compensadas são fatores importantes na investigação clínica. “Especificamente no caso das crianças, a história deve envolver, ainda, a existência de eventos pré e perinatais, crises no período neonatal, crises febris ou qualquer outro episódio não provocado, assim como histórico de epilepsia familiar. Além disso, os médicos devem fazer análises complementares para confirmação do diagnóstico.
O eletroencefalograma (EEG) é o exame inicialmente indicado porque, quando alterado, é capaz de identificar o tipo e a localização da descarga elétrica inicial, orientando a classificação da síndrome epiléptica e a escolha do tratamento farmacológico. “Contudo, o exame pode apresentar alterações transitórias nas primeiras 48 horas, sendo recomendada sua realização a partir do terceiro dia e até, no máximo, um mês após a crise”, explica a neurologista pediátrica Daniela Fontes Bezerra. Entre os exames de neuroimagem, a ressonância magnética apresenta-se superior à tomografia computadorizada, pois, além de avaliar lesões estruturais, detecta alterações mais sutis como displasias corticais (relacionadas a epilepsias de difícil controle em crianças e adultos). Já os exames laboratoriais têm papel na investigação de outras causas desencadeadoras, a exemplo de hiperglicemia, hipoglicemia e distúrbios hidroeletrolíticos, entre outros.
O tratamento da epilepsia, disponível no Sistema Único de Saúde (SUS), é fundamental para o controle das crises e para que o paciente tenha uma vida produtiva. Existem diversos protocolos disponíveis para o tratamento da doença, o que possibilita individualizar a terapêutica conforme tolerâncias a fármacos e indicações específicas de acordo com o tipo de manifestação clínica. O objetivo principal é controlar as crises, o que ocorre com sucesso em até 70% dos pacientes que utilizam a medicação de maneira adequada. “Evidentemente, o sucesso do tratamento não depende apenas da abordagem farmacológica, mas requer um olhar integral, a compreensão da condição crônica, o apoio familiar e social, o combate aos estigmas relacionados à doença e a abordagem de comorbidades associadas, entre outros”, argumenta a neurologista pediátrica da FMABC, Daniela Fontes Bezerra.