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Cães farejadores e o vírus da Covid-19

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Treinados para identificação de SARS-Cov-2

Escrito por: Fernanda Ortiz

Durante a pandemia da Covid-19, equipes de pesquisa trabalharam para determinar se os cães poderiam ser treinados para identificar pessoas recém-infectadas pelo vírus. Trabalhos em países como Alemanha, Estados Unidos e Finlândia indicaram a vocação dos cães para essa finalidade. Assim, pesquisadores da Escola Nacional Veterinária de Alfort, na França, e da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) comprovaram que os cães farejadores são capazes de distinguir o odor de um indivíduo infectado. Esse odor é constituído por compostos voláteis que evaporam com o suor, diferentemente do exalado por uma pessoa saudável.

“Os cães foram inicialmente treinados com a utilização de polímeros especiais embebidos por catabólitos de pessoas infectadas, além de amostras com teste negativo para Covid-19. Na prática, os animais foram ensinados a reconhecer, através do cheiro do suor, a presença do vírus”, explica o professor doutor Anísio Francisco Soares, coordenador do Laboratório de Fisiologia e Cirurgia Experimental e do Biotério de Criação e Experimentação do Departamento de Morfologia e Fisiologia Animal (DMFA) da UFRPE, que liderou os trabalhos no Brasil.

A pesquisa envolveu treinamento dos cães, coleta de materiais e identificação das amostras. Os cães foram adestrados pelo cinotécnico Jorge Pereira, da Unidade K9 Internacional, em Campo Limpo Paulista, São Paulo. Enquanto isso, as amostras foram coletadas com ajuda de agentes de saúde em Paudalho, Pernambuco. Os voluntários com sintomas de síndrome respiratória foram orientados a não estar em tratamento, não tomar banho ou usar perfume 48 horas antes da coleta, a fim de evitar interferências no odor.

As amostras – cerca de 100 – foram coletadas por meio de bolinhas de algodão esfregadas nas axilas por cerca de 20 minutos. Com duas amostras por paciente, uma era conduzida para a UFRPE para o teste RT-PCR (padrão-ouro para detecção do RNA do vírus) e a outra diretamente enviada ao canil.

No processo de identificação, os cães passavam na frente de dispositivos compostos de pequenos orifícios com as amostras. Ao detectar o odor característico da doença, se sentavam ou latiam e aguardavam a ‘recompensa’. Os primeiros resultados mostraram acertos entre 95% e 97,5%, e se repetiram na fase seguinte, quando os cães foram levados ao ambiente hospitalar.

“Durante o processo, um fato chamou atenção: um paciente estava negativo no RT-PCR, mas o faro habilidoso do cão sentiu que existiam vestígios do vírus. Ou seja, mesmo que o paciente já tivesse desenvolvido anticorpos, ainda assim o cachorro foi capaz de identificar os compostos orgânicos pelo suor”, relata o professor Anísio Francisco Soares. O fato corrobora a capacidade dos cães farejadores neste processo.

OUTRAS COMPROVAÇÕES

No estudo ‘Exhaled breath isoprene rises during hypoglycemia in type 1 diabetes’, cientistas do Reino Unido demonstraram que os cães conseguem identificar níveis baixos de glicose em indivíduos diabéticos. Segundo os autores, isso é possível porque farejam isopreno, um subproduto da produção de colesterol que cresce consideravelmente durante a hipoglicemia. Ao sentir o odor, o cão treinado pode avisar o paciente e ajudar na prevenção de tontura, desmaios e até coma.

Um trabalho desenvolvido na França investigou se existe ‘odor de convulsão na epilepsia e se os cães poderiam identificá-lo. Além de provar que realmente ocorrem odores específicos antes das convulsões, todos os cães usados no experimento discriminaram esse odor. O artigo ‘Dogs demonstrate the existence of an epileptic seizure odour in humans’ foi publicado na revista Scientific Reports em 2019. •

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