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Transmissão congênita demanda mais atenção

Escrito por: Elessandra Asevedo

Devido às medidas de controle da transmissão vetorial e transfusional, a transmissão congênita tem se tornado proporcionalmente mais relevante, além de ser a principal fonte de novos casos em países não endêmicos. Também conheci­da como transmissão vertical, ocorre de mãe para filho durante a gravidez via transplacentária ou no parto, e é responsável por até um terço dos novos casos anuais da doença. Das cerca de 8 milhões de pessoas que moram em zonas rurais e urbanas da América Latina e que podem ser afetadas pela doença, mais de 1 ­milhão são mulheres em idade fértil que dão à luz de 8 a 15 mil bebês – que poderiam ser acometidos pela enfermidade. O pior é que essa prevalência de gestantes e recém-nascidos com a doença de Chagas pode ser subestimada, pois os serviços de saúde materno-infantil não rastreiam os casos na maioria das áreas endêmicas.

Os especialistas ressaltam que reali­zar o diagnóstico e o tratamento das mu­lheres das áreas endêmicas antes da gestação reduz drasticamente o risco da transmissão congênita – até porque as opções de tratamento atuais não são recomendadas durante a gravidez. Nas grávidas, o diagnóstico é importante para o rastreamento precoce da infecção no ­recém-nascido, o que permite a implementação de um tratamento eficaz e seguro. “A cura é mais possível e maior quanto menor o tempo de evolução da doença, e os recém-nascidos têm eleva­das chances de cura, próximo a 100%. O rastreamento de recém-nascidos filhos de mães infectadas tornou-se uma estratégia essencial para reduzir novos casos e precisa fazer parte dos testes realizados nos bebês ao nascimento”, enfatiza a médica cardiologista Andréa Silvestre, pesquisadora em Saúde Pública do Insti­tuto Nacional de Infectologia Evandro Chagas da Fundação Oswaldo Cruz (INI-Fiocruz) – órgão voltado para a pesquisa clínica, o ensino, os serviços de referência e a assistência em doenças infecciosas.

Outra barreira está no diagnóstico em bebês. O teste sorológico tem grandes desvantagens para detectar infecção congênita em recém-nascidos porque os anticorpos de uma mãe infectada pela doença podem persistir no filho por até nove meses, atrasando a confirmação da doença e o tratamento da criança. “Os testes rápidos auxiliam na detecção das mães no pré-natal e nas mulheres em idade fértil, mas também não podem ser usados para bebês porque detectariam os anticorpos da mãe”, detalha a médica Andréa Silvestre. O exame de PCR no primeiro trimestre de vida aumenta a sensibilidade ao diagnóstico de doença de Chagas congênita, mas não é uma ferramenta amplamente disponível e geralmente não é acessível na atenção primária à saúde. Assim, a melhor estratégia é o tratamento etiológico das mulheres em idade fértil antes da gravidez, o que permitiria a redução dos casos congênitos.

Iniciativas internacionais

Várias estratégias e planos de ação internacionais foram lançados para atingir a eliminação da transmissão congênita – como a iniciativa de eliminação da transmissão vertical da OPAS e o roteiro para doenças tropicais negligenciadas da OMS –, mas muitos países ainda não têm programas em vigor porque carecem de outros serviços adequados de saúde reprodutiva, materna, neonatal e infantil. Em abril de 2021 nasceu o ­CUIDA Chagas (Comuni­dades Unidas para Inovação, Desenvolvimento e Atenção para a Doença de Chagas), iniciativa internacional financiada pela organização global de saúde Unitaid, cofinanciada pelo Ministério da Saúde do Brasil e liderada pelo INI-Fiocruz. O projeto conta com o trabalho de equipes multidisciplinares na Bolívia, Colômbia, no Brasil e Paraguai. “O principal objetivo é contribuir para a eliminação da transmissão vertical. Por isso, estão sendo realizadas pesquisas de inovação e implementação que visam melhorar o diagnóstico, tratamento e cuidado das pessoas acometidas pela enfermidade. Trabalhamos de forma coordenada com equipes locais, pactuando com os gestores e profissionais da saúde, formando multiplicadores e envolvendo a comunidade de forma sustentável”, destaca a médica Andréa Silvestre, principal investigadora do projeto.

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