As propriedades anti-inflamatórias de certas cepas probióticas levaram pesquisadores italianos a investigar se o Lactobacillus casei Shirota (LcS) poderia reduzir o índice inflamatório de pacientes infectados pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV). A hipótese é que a inflamação sistêmica observada em indivíduos infectados pelo HIV com supressão virológica é parcialmente devida à degradação de microrganismos na mucosa intestinal. Juntamente com isso, ocorre o aumento da translocação de lipopolissacarídeo (LPS), um componente da parede celular bacteriana, e a disfunção de produção de citocinas imunorreguladoras.
Estudos recentes demonstraram que probióticos podem neutralizar o processo inflamatório, estabilizando o ambiente microbiano intestinal e a barreira intestinal. Assim, reduzem a inflamação sistêmica e estimulam a atividade das células natural killer (NK) – que fazem parte do sistema de defesa do organismo. Além disso, está bem demonstrado que a cepa probiótica LcS aumenta o número de espécies bacterianas no intestino consideradas benéficas e melhora o equilíbrio entre bactérias intestinais benéficas e potencialmente prejudiciais. Além disso, o LcS aumenta a atividade das células NK.
Dessa forma, os cientistas desenvolveram um estudo com 30 homens HIV+ em terapia antirretroviral (TARV). Os pacientes receberam um frasco de leite fermentado Yakult Light® contendo Lactobacillus casei Shirota (LcS) duas vezes por dia, durante quatro semanas. De acordo com os autores do estudo ‘Effect of probiotic supplement on cytokine levels in HIV-infected individuals: a preliminary study’, a infecção por HIV causa ativação imunológica de alto nível e de longo prazo, assim como doenças associadas à inflamação. Portanto, a hipótese é que a redução de citocinas inflamatórias e a translocação microbiana poderiam ser uma forma de controlar esse problema.
Todos os pacientes infectados pelo HIV foram tratados com TARV combinada de acordo com as diretrizes atualmente aceitas. A carga viral era estável e indetectável antes do início da ingestão de LcS, assim como após quatro semanas de ingestão da cepa probiótica. “A adição de LcS à dieta diária foi bem tolerada por todos os pacientes. Portanto, nenhum sintoma adverso foi relatado, a exemplo de febre, náusea ou dor de estômago”, relatam os autores. O questionário mostrou que a maioria dos pacientes (94,1%) estava geralmente satisfeita e considerou aceitável a bebida láctea fermentada com LcS.
Resultados
O probiótico LcS foi associado a um aumento de linfócitos T e a um aumento significativo de células de defesa CD56+. Também houve uma diminuição significativa dos níveis de mRNA de fator de crescimento transformador beta (TGFβ), e interleucinas IL-10 e IL-12. Além disso, foram observadas diminuição da inflamação e do risco cardiovascular, sinalizando que o LcS poderia reduzir o índice inflamatório.
De acordo com os autores, esses dados fornecem evidências preliminares de que a suplementação com probióticos pode modular certos parâmetros imunológicos e algumas das citocinas que foram analisadas. “Assim, propomos que o LcS pode ser uma estratégia barata e prática para apoiar a função imunológica de pacientes HIV+”, concluem. O estudo foi publicado na revista Nutrients em 2015.