Crianças internadas no Hospital São Lucas

• Matérias da Edição

| Microbiota & Probióticos

Estudo também analisou amostras de crianças com VSR

Escrito por: Adenilde Bringel

Com os resultados, os pesquisadores fizeram um novo estudo em que foram coletadas amostras de fezes e de secreção nasofaríngea de 30 crianças internadas no Hospital São Lucas da PUC-RS, que estavam no primeiro episódio de bronquiolite e tinham até um ano de idade. Nas amostras de fezes, foi avaliada a composição da microbiota e medida a quantidade de ácidos graxos de cadeia curta. O foco era investigar a relação da microbiota intestinal e do acetato fecal com a gravidade da doença entre bebês hospitalizados com bronquiolite e se o tratamento de suas células epiteliais respiratórias com acetato de AGCC ex-vivo afetaria a carga viral. As células coletadas do nariz das crianças foram levadas ao laboratório e tratadas com o composto de acetato. As análises mostraram que as crianças com mais acetato nas fezes eram aquelas que estavam com quadros menos graves.

O resultado confirmou, ainda, que uma maior concentração de acetato diminuía a replicação viral. O acetato está correla­cionado com parâmetros que se relacionam com a gravidade da doença, como dias de hospitalização, saturação de oxigênio, febre e chiado no peito. A análise da microbiota também mostrou a presença de algumas bactérias patogênicas que se correlacionam com o pior prognóstico da bronquiolite, como da família Bacteroidaceae. A professora Ana Paula Duarte de Souza afirma que o grupo não tratou as crianças internadas porque o trabalho ainda é experimental. “Mas as células das crianças foram tratadas no laboratório e foi possível diminuir a quantidade de vírus naquelas amostras. Dessa forma, ficou confirmado que o acetato provavelmente tenha um papel relevante nessa proteção”, reforça.

Os pesquisadores enfatizam que a amamentação desempenha uma função importante na proteção contra o VSR e outros tipos de vírus, uma vez que é fundamental para a formação da microbiota e do sistema imune da criança. Para o professor Marco Aurélio Vinolo, a amamentação é essencial não só por fornecer nutrientes para o neonato, mas também por fornecer componentes que vão ser importantes para a microbiota, por exemplo, alguns carboidratos utilizados pelas bactérias intestinais para gerar metabólitos que vão atuar nas células, além de transferir componentes importantes para o sistema de defesa do bebê. “

O leite humano transfere tanto componentes humorais, como os anticorpos, quanto algumas células imunológicas que hoje têm sido alvo de pesquisa intensa na área. Também existem várias evidências mostrando que a amamentação aumenta a proteção contra o VSR e outras infecções, assim como protege de alterações inflamatórias como alergias e asma, inclusive na vida adulta”, acentua. A professora Ana Paula Duarte de Souza acrescenta que crianças amamentadas têm naturalmente um fator de proteção para bronquiolite, por isso, em geral não vão precisar de hospitalização.

No entanto, como a amostra do estudo era de crianças que já estavam hospitalizadas, não foi possível fazer uma correlação direta dessa proteção. A próxima etapa da pesquisa é tentar fazer alguma intervenção com pacientes para, no futuro, desenvolver um fármaco utilizando os ácidos graxos de cadeia curta para uma intervenção com crianças com infecção por VSR. Outra ideia é desenvolver um estudo clínico fornecendo dieta rica em fibras, para que essa dieta module essas bactérias protetoras da microbiota. “Gostaríamos de fazer um ensaio clínico e ver se realmente isso pode ser uma intervenção no futuro”, ressalta.

DIREITOS RESERVADOS ®
Proibida a reprodução total ou parcial sem prévia autorização da Companhia de Imprensa e da Yakult.

Posts Recentes