O uso de plantas medicinais no cuidado e na promoção da saúde tem reconhecimento da Organização Mundial da Saúde (OMS) desde 1978, quando a entidade expressou, na Declaração de Alma-Ata, a posição a respeito da necessidade de valorizar a utilização desses recursos naturais e eficazes no âmbito sanitário – uma vez que 80% da população mundial já utilizava plantas medicinais ou preparações na atenção primária à saúde. Em 2006, foi criada no Brasil a Política Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos que visa, entre outros, garantir à população o acesso seguro e o uso racional de plantas medicinais e fitoterápicos. Em 2010 institucionalizou-se o Programa Farmácia Viva, que abrange o cultivo e o beneficiamento de plantas medicinais, além da dispensação de fitoterápicos na forma de preparações magistrais e oficinais.
Segundo o doutor em Ciência, Rafael Poloni, coordenador geral de Assistência Farmacêutica Básica do Departamento de Assistência Farmacêutica e Insumos Estratégicos da Secretaria de Ciência, Tecnologia, Inovação e Complexo da Saúde do Ministério da Saúde, uma planta é considerada medicinal quando possui substâncias que, ao serem administradas no ser humano, podem prevenir, curar ou tratar doenças. E, ao obter um medicamento a partir de uma planta medicinal, este é chamado de fitoterápico. “O uso de plantas medicinais e fitoterápicos faz parte dos cuidados em saúde no Brasil, que detém muitos conhecimentos tradicionais acerca de espécies relevantes do ponto de vista terapêutico. De forma geral, o consumo desses produtos ocorre em grande parte da população, que confia nesse tipo de terapêutica porque observa sua efetividade”, pontua.
Esse conhecimento popular sobre as plantas medicinais, denominado etnobotânico, foi adquirido da vivência em conjunto com a natureza e as práticas locais, e é passado entre as gerações dentro da família ou nas comunidades, como quilombolas e indígenas. “Pela experimentação, por meio dos erros e acertos, esse conjunto de plantas traz um respaldo cultural e conhecimento empírico que possibilita usá-lo para fins medicinais. Em um segundo momento, a ciência faz o resgate do conhecimento etnobotânico e realiza testes farmacológicos em laboratório para verificar os efeitos, por meio da experimentação em animais e células, gerando dados científicos que confirmam a eficácia e segurança”, afirma a farmacêutica Luísa Mota da Silva, da UFSC.