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Ácidos graxos poli-insaturados

• Pesquisa

Cordão umbilical pode ser a chave para o autismo

Escrito por: Fernanda Ortiz

Caracterizado pela alteração das funções do neurodesenvolvimento, o Transtorno do Espectro Autista (TEA) é um distúrbio identificável ainda na primeira infância, que interfere na capacidade de comunicação, linguagem, interação social e no comportamento. Embora a etiologia ainda seja desconhecida, evidências científicas apontam a interação de componentes genéticos e ambientais como possível causa. Recentemente, um estudo realizado por cientistas da Universidade de Fukui, no Japão, apresentou uma nova perspectiva ao sugerir que ácidos graxos poliinsaturados (PUFAs), presentes no sangue do cordão umbilical, podem estar diretamente associados a sintomas do TEA e ao funcionamento adaptativo dessas crianças.

Para o trabalho, os pesquisadores utilizaram um subconjunto do Hamamatsu Birth Cohort Study for Mothers and Children (HBC Study). Este estudo de coorte prospectivo, em andamento, incluiu mulheres no primeiro ou segundo trimestre de gravidez que visitaram o Hamamatsu University Hospital ou a Kato Maternity Clinic entre novembro de 2007 e março de 2011. “Um total de 200 participantes que completaram as avaliações de sintomas de TEA e funcionamento adaptativo foram incluídos na análise”, comentam os autores. Destes, 106 eram meninos e 94 meninas.

Realizada quando as crianças atingiram seis anos de idade, com a ajuda de suas mães, a gravidade do TEA foi determinada com base no ADOS-2 e na VABS-II. A primeira avaliação padronizada ocorre a partir da observação, comunicação, interação social, hábitos e comportamentos, enquanto a segunda avalia o comportamento adaptativo. A partir da análise de sangue do cordão umbilical, que foi coletada imediatamente após o nascimento, foram quantificados os níveis de ácidos graxos poli-insaturados presentes nas amostras.

Segundo os autores, os PUFAs, representados pelo ácido araquidônico (AA) e metabólitos, são mediadores-chave de processos imunomoduladores. “Os PUFAs são regulados por três vias enzimáticas principais: ciclooxigenase, lipoxigenase e vias do citocromo P450 (CYP)”, explicam. De acordo com os autores, o metabolismo do CYP forma ácidos graxos epóxis (EpFAs) que têm efeitos anti-inflamatórios, e ácidos graxos di-hidroxi (dióis) que exercem efeitos inflamatórios ao impulsionar a motilidade dos monócitos em resposta à proteína quimioatraente de monócitos-1 (MCP-1).

Resultados

As análises revelaram que a dinâmica dos diois é importante na definição do contexto biológico do funcionamento adaptativo prejudicado e das características comportamentais do TEA. Além disso, os pesquisadores descobriram que um composto específico produzido a partir de gorduras no corpo –, chamado diHETrE –, presente no sangue do cordão umbilical, pode ter implicações significativas na gravidade do TEA. “Os resultados mostraram que altos níveis de diHETrE estão associados a dificuldades em interações sociais, especialmente nas meninas, enquanto níveis baixos estão ligados a comportamentos repetitivos e restritivos”, descrevem. Além disso, níveis mais altos de diHETrE foram associados ao funcionamento adaptativo prejudicado em domínios sociais, como habilidades de enfrentamento.

O estudo foi pioneiro em relatar o papel dos metabólitos de diol em relação ao neurodesenvolvimento. Assim, os cientistas sugerem que medir os níveis de diHETrE no nascimento pode se tornar uma ferramenta valiosa para prever o risco de uma criança desenvolver TEA. Outra proposta é que inibir o metabolismo do diHETrE durante a gravidez poderia ser uma estratégia para prevenir traços de TEA.

Entretanto, pesquisas futuras são necessárias para aprofundamento e validação dessa hipótese. O artigo ‘Arachidonic acid-derived dihydroxy fatty acids in neonatal cord blood relate symptoms of autism spectrum disorders and social adaptive functioning: Hamamatsu Birth Cohort for Mothers and Children (HBC Study)’ foi publicado em julho de 2024 no periódico Wiley OnLine Library.

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