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Conexão coração-cérebro

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Condições cardíacas e alterações cerebrais

Escrito por: Elessandra Asevedo

Estudos mostram que as doenças neurológicas vão crescer substancialmente nas próximas décadas. O aumento dessas enfermidades, como derrame e demências, tornam a saúde cerebral uma prioridade de saúde pública e um grande desafio. Paralelamente, as doenças cardiovasculares são a principal causa de morte e incapacidade em todo o mundo. Antes considerados sistemas e órgãos não relacionados, evidências emergentes mostram que coração e cérebro são interdependentes e ligados por fatores de risco compartilhados. Assim, essa conexão coração-cérebro pode estar relacionada a algumas condições clínicas importantes.

Mais recentemente, estudos projetados para desvendar os intrincados mecanismos patogênicos que sustentam essa conexão coração-cérebro mostram que pessoas com várias condições cardíacas podem ter alterações microestruturais cerebrais ocultas e comprometimento cognitivo. Essas descobertas deram origem à ideia de que, ao abordar a saúde cardiovascular mais cedo na vida, pode ser possível reduzir o risco de derrame e impedir o início ou a progressão do comprometimento cognitivo futuro.

De acordo com uma declaração científica da American Heart Association (AHA), mecanismos patogênicos ligam três doenças cardíacas prevalentes em adultos ao comprometimento cognitivo – insuficiência cardíaca, fibrilação atrial e doença cardíaca coronária. A insuficiência cardíaca é uma síndrome clínica complexa e um grande fardo para a saúde pública, secundária a várias patologias cardíacas e não cardíacas.

Assim, essa condição resulta em comprometimento funcional ou estrutural do enchimento ventricular ou ejeção de sangue. As causas subjacentes mais comuns da insuficiência cardíaca incluem doença cardíaca coronária, hipertensão, obesidade, diabetes, arritmias e doença cardíaca valvular. “Ademais, causas mais raras incluem doenças autoimunes, doença cardíaca periparto e abuso de substâncias”, explicam os responsáveis pela declaração.

Outras condições cardíacas

A fibrilação atrial é a arritmia clínica sustentada mais comum em adultos. As estimativas indicam que a prevalência e incidência geral devem aumentar em 15,9 milhões de indivíduos nos Estados Unidos até 2050. Enquanto a associação entre fibrilação e acidente vascular cerebral (AVC) está bem estabelecida, a ligação entre a fibrilação atrial e a cognição requer mais esclarecimentos.

De acordo com o documento da AHA, a fibrilação pode causar comprometimento cognitivo porque esta arritmia cardíaca e a demência compartilham vários fatores de risco. Entre eles estão hipertensão, diabetes, insuficiência cardíaca, tabagismo, doença vascular, distúrbios respiratórios do sono e idade avançada.

Essas condições também levam a alterações estruturais e funcionais, incluindo carga de hiperintensidade da microestrutura da substância branca do cérebro e infarto cerebral silencioso. “Além disso, ocorre diminuição dos volumes de substância cinzenta total e do hipocampo e anormalidades funcionais da rede neural, que resultam em declínio cognitivo”, declaram.

Os responsáveis reforçam, ainda, que os fatores de risco vascular desencadeiam inflamação sistêmica e possivelmente neuroinflamação, juntamente com disfunção da barreira hematoencefálica. “Ademais, a doença cardíaca coronária e a aterosclerose associada contribuem para a inflamação, que pode afetar a macro e microcirculação cerebral”, explicam.

Conclusões importantes

As evidências cumulativas obtidas em estudos epidemiológicos e de ciências básicas confirmam que as trajetórias da saúde cardíaca e da saúde cerebral estão inextricavelmente interligadas por fatores modificáveis ​​e não modificáveis. Dados mostram que alterações microestruturais cerebrais, infarto cerebral oculto, acidente vascular cerebral e hipoperfusão estão associados ao desenvolvimento de patologia cerebral em pessoas com doença cardíaca.

“Apesar dos múltiplos avanços alcançados nesta área, nossa compreensão das contribuições da doença cardíaca para a cognição permanece repleta de inconsistências e lacunas”, reforçam os autores. Uma barreira importante para entender a conexão coração-cérebro é a falta de evidências demonstrando que o tratamento apropriado de doenças cardíacas tem um efeito benéfico nas alterações cognitivas relacionadas à idade.

Do ponto de vista da saúde pública, no entanto, evidências epidemiológicas consistentes apoiam a noção de que a prevenção e o tratamento precoce de doenças cardíacas são estratégias eficazes para manter a cognição dependente da idade. Assim, campanhas educacionais adaptadas à cultura e à idade, promovendo a adoção precoce de estilos de vida saudáveis, podem reduzir o fardo da demência na população em geral. A declaração científica ‘Cardiac Contributions to Brain Health: A Scientific Statement From the American Heart Association foi publicada em outubro de 2024 na publicação Stroke

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