Alguns estudos científicos têm sugerido que, ao trabalhar com uma boa colonização intestinal, será possível melhorar a colonização pulmonar e isso poderia levar, no futuro, a um menor número de exacerbações pulmonares causadas pela fibrose cística. Em geral, a exacerbação pulmonar ocorre quando o paciente realmente tem maior número de sintomas e, geralmente, começa com febre e perda de apetite, levando ao tratamento com antibiótico e a todas as consequências da piora pulmonar. Em 2017, na dissertação de mestrado, a nutricionista Lenycia Neri desenvolveu uma revisão sistemática da literatura sobre o uso de probióticos em fibrose cística. Pelos estudos avaliados na época foi observado efeito protetor do uso de probióticos ou simbióticos nesses pacientes. Entretanto, essa hipótese ainda não está comprovada.
A revisão sistemática seguiu protocolo proposto pela Colaboração Cochrane, com buscas em bases de dados eletrônicas com os termos prebióticos, probióticos ou simbióticos e fibrose cística. A pesquisadora incluiu ensaios clínicos randomizados que abordassem os desfechos de inflamação intestinal e/ou exacerbações pulmonares, e o estudo de avaliação nutricional foi realizado através de levantamento de dados antropométricos e clínicos, além de questionários aplicados a pacientes e responsáveis sobre dados de consumo alimentar e características socioeconômicas. “Conseguimos observar um efeito protetor do uso de probióticos e simbióticos na taxa de exacerbação pulmonar em pacientes com fibrose cística quando comparados com placebo. A inflamação intestinal, que é um marcador importante, parece que tem uma diminuição com o uso de probióticos, mas ainda serão necessários outros estudos para comprovar isso”, relata.
A professora Sheila Cristina Potente Dutra Luquetti lembra que os estudos sugerem que o uso de probióticos teria um potencial para reduzir as exacerbações pulmonares, além de diminuir a inflamação intestinal em crianças e adultos com fibrose cística. Contudo, como há ainda poucos estudos nesta área, faltam evidências de alta qualidade para definir o uso de probióticos na doença, sendo fundamental a realização de mais estudos para caracterizar melhor a microbiota residente e para verificar a relação do ecossistema intestinal com parâmetros clínicos e nutricionais. “Esse conhecimento será fundamental para o estabelecimento de intervenções futuras com alimentos prebióticos e com probióticos”, enfatiza. Para a médica Marcela Duarte de Sillos, os probióticos podem vir a ser um adjuvante no tratamento das manifestações gastrointestinais da fibrose cística. Entretanto, ainda são necessários mais estudos que confirmem efeitos, dose e tipo de cepa para cada uma das condições clínicas associadas à doença. Assim, o uso de probióticos sem benefícios comprovados para a saúde desses pacientes deve ser desencorajado. •