O transtorno do déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) é atualmente o transtorno do neurodesenvolvimento mais comum na infância. De acordo com a literatura, a condição resulta de aspectos multifatoriais, como interações genéticas, ambientais e neurobiológicas. Embora os mecanismos precisos que sustentam a patogênese do transtorno permaneçam indefinidos, evidências emergentes apontam para uma associação potencial entre os sintomas do TDAH e alterações na microbiota intestinal.
Vários fatores causais, incluindo idade gestacional, modo de parto, tipo de alimentação, dieta, uso de antibióticos, epigenética e infecção, bem como disfunções do sistema de neurotransmissão, podem influenciar o risco de desenvolvimento de TDAH e a variação das manifestações do transtorno. Numerosas investigações ressaltam o papel fundamental deste microbioma na comunicação bidirecional do eixo intestino-cérebro, influenciando processos metabólicos, respostas inflamatórias, o eixo hipotálamo-hipófise-adrenal e os sistemas neurotransmissores.
Em virtude desses achados, um estudo tailandês analisou perfis do microbioma intestinal de crianças com TDAH sem tratamento prévio em comparação com indivíduos saudáveis. Além disso, os cientistas delinearam padrões diferenciais do microbioma intestinal e ingestão alimentar entre crianças com TDAH e controles. No estudo, foram analisadas 24 crianças tailandesas sem tratamento prévio diagnosticadas com TDAH e 24 saudáveis pareadas por idade e sexo. “As composições microbianas fecais foram analisadas geneticamente usando o sequenciamento do gene 16s rRNA”, explicam os responsáveis.
Poucas alterações na microbiota intestinal
Os resultados do estudo não indicaram diferenças estatisticamente significativas na diversidade microbiana entre os grupos, embora Firmicutes e Actinobacteria parecessem dominantes em ambos os grupos. Além disso, os pacientes com TDAH exibiram enriquecimento nos gêneros Alloprevotella, CAG-352, Succinivibrio e Acidaminococcus, enquanto os controles saudáveis apresentaram níveis mais altos dos gêneros Megamonas, Enterobacter, Eubacterium hallii e Negativibacillus.
Houve uma correlação positiva entre CAG-352 e TDAH, bem como uma correlação negativa entre o grupo Eubacterium hallii e o transtorno. Além disso, a ingestão de betacaroteno e vitamina B2 foi associada à abundância de microbiota intestinal específica em crianças com TDAH. “Pesquisas adicionais devem ter como objetivo elucidar os mecanismos subjacentes que influenciam os biomarcadores clínicos que significam alterações na microbiota intestinal ligadas ao TDAH”, reforçam os pesquisadores. O artigo ‘Gut microbiota and clinical manifestations in thai pediatric patients with Attention-Deficit Hyperactivity Disorder’ foi publicado no Journal of Personalized Medicine em julho de 2024.