Síndrome de Peutz-Jeghers é rara

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Microbiota na síndrome de Peutz-Jeghers

Escrito por: Elessandra Asevedo

Doença genética autossômica dominante rara, a síndrome de Peutz-Jeghers se caracteriza por pólipos hamartomatosos gastrointestinais e pigmentação da pele e das membranas mucosas. Até agora, a patogênese da enfermidade não está totalmente esclarecida e não existe tratamento eficaz disponível. Como há poucos estudos realizados sobre as características da microbiota intestinal de pacientes com a síndrome, um grupo de pesquisadores chineses desenvolveu um trabalho justamente com esse foco.

O ponto de partida do estudo ‘Changes of gut microbiota and short chain fatty acids in patients with Peutz–Jeghers syndrome’ leva em consideração o fato de a microbiota intestinal desempenhar um papel importante na manutenção da homeostase intestinal no corpo humano e em sua relação com a saúde. Os pesquisadores analisaram as características da microbiota intestinal usando sequenciamento do gene 16S rRNA de 79 pacientes com a síndrome de Peutz-Jeghers e 83 voluntários saudáveis. Dos pacientes, 75 tinham pólipos benignos.

Os cientistas também realizaram a medição dos níveis de ácidos graxos de cadeia curta (AGCC) no intestino de 20 pacientes com a síndrome e 20 controles saudáveis. “Todos os indivíduos foram examinados por endoscopia do estômago, intestino delgado e intestino grosso, uma vez por ano durante o estudo”, afirmam os cientistas. Ademais, foram incluídas medidas do número e comprimento dos pólipos no estômago, intestino delgado e intestino grosso.

Achados

O trabalho elucidou as características da microbiota intestinal dos pacientes com a síndrome, além de encontrar alterações na microbiota quando comparada com voluntários saudáveis ​​ou aqueles com pólipos benignos. “O filo Bacteroidetes e o gênero Bacteroides foram significativamente aumentados nos pacientes com a doença”, descrevem os cientistas. Em contrapartida, este grupo diminuiu a quantidade dos filos Firmicutes e Actinobacteria, e também dos gêneros Blautia e Bifidobacterium.

De acordo com os autores, o filo Bacteroides é um componente importante que mantém a homeostase intestinal, no entanto, também pode desempenhar um papel patogênico no hospedeiro. “Por exemplo, Bacteroides vulgatus é encontrado em pacientes com doença de Crohn e pode estar envolvido no desenvolvimento desta enfermidade, perturbando a barreira intestinal ou ativando a resposta inflamatória”, detalham.

Além disso, a presença de grande quantidade de Bacteroides em pacientes com a enfermidade correlacionou-se com o comprimento dos pólipos maiores, indicando que o filo pode exacerbar a inflamação intestinal e promover o crescimento de pólipos. “No entanto, mais pesquisas são necessárias para elucidar o papel potencial de Bacteroides na patogênese da síndrome”, enfatizam os autores.

Disbiose

Em resumo, a pesquisa encontrou disbiose da microbiota intestinal em pacientes com a síndrome em comparação com controles saudáveis ​​e pacientes com pólipos, juntamente com uma diminuição na síntese de ácidos graxos de cadeia curta. Os pesquisadores estabeleceram, ainda, um modelo aleatório de random forest baseado nas características da microbiota intestinal dos pacientes para fornecer uma base para o diagnóstico e tratamento direcionado da doença no futuro. “Devido à raridade e à baixa taxa de incidência da enfermidade, a pesquisa incluiu apenas 79 pacientes, o que pode ter impactado nos resultados experimentais. Por isso, mais estudos são necessários”, acentuam. O artigo foi publicado em 2023 na BMC Microbiology – doi.org/10.1186/s12866-023-03132-0.

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