O microbioma intestinal desempenha um papel importante na saúde e na doença, e os probióticos representam uma modalidade promissora para intervenções profiláticas e terapêuticas. De acordo com os autores de uma revisão científica, o benefício potencial da administração de probióticos em crianças já foi estudado em muitos ambientes globalmente, e há evidências para apoiar o uso de certos probióticos em condições pediátricas selecionadas. Além disso, a administração de probióticos está associada a um baixo risco de eventos adversos e geralmente é bem tolerada.
Os pesquisadores da Universiteit Brussel (VUB), em Bruxelas, Bélgica, avaliaram ensaios clínicos randomizados ou metanálises sobre probióticos em condições pediátricas disponíveis na Biblioteca Cochrane e no MEDLINE. Além disso, investigaram diretrizes de prática clínica baseadas em evidências publicadas entre 1º de janeiro de 2000 e 30 de abril de 2021.
Assim, o artigo fornece uma visão geral da literatura disponível sobre o uso profilático e terapêutico de probióticos em condições pediátricas clinicamente bem definidas. “O objetivo da revisão é fornecer uma visão geral das evidências sobre a eficácia de probióticos em condições selecionadas”, acentuam. Desta forma, será possível orientar os pediatras na tomada de decisões sobre o uso terapêutico ou profilático de cepas probióticas em crianças.
Comprovações
Os estudos com probióticos em condições pediátricas já demonstraram, por exemplo, os efeitos benéficos de cepas selecionadas para o manejo ou a prevenção de condições pediátricas selecionadas. A melhor eficácia documentada de certos probióticos é para o tratamento da gastroenterite infecciosa e prevenção da diarreia associada a antibióticos, associada a Clostridioides difficile e nosocomial.
“Devido à heterogeneidade e, em alguns casos, ao alto risco de viés em estudos publicados, falta um amplo consenso para cepas probióticas, doses e tratamento para algumas indicações pediátricas”, relatam os autores. As evidências atuais disponíveis, portanto, limitam a administração sistemática de probióticos na Pediatria e destacam a necessidade de estudos de resposta mais bem projetados, específicos para cepas e dose.
Busca de consenso
Devido à variação entre os estudos disponíveis, incluindo a heterogeneidade das cepas, dosagem, matriz, via de administração e indicação, bem como o protocolo de pesquisa, nenhum consenso amplo sobre o uso de probióticos pôde ser alcançado. Assim, a Associação Americana de Gastroenterologia (AGA) e a Sociedade Europeia de Gastroenterologia Pediátrica, Hepatologia e Nutrição (ESPGHAN) publicaram recentemente diferentes recomendações baseadas em evidências.
Por exemplo, em relação à enterocolite necrosante, a AGA, a ESPGHAN e a Academia Americana de Pediatria (AAP) chegaram a conclusões diferentes. “Essas ressalvas resultam na necessidade de mais pesquisas”, relatam os autores. Em resumo, ensaios mais bem projetados são necessários antes que recomendações baseadas em evidências possam ser propostas sobre as indicações para administração pediátrica de probióticos.
“Há evidências substanciais sugerindo que a eficácia dos probióticos é específica em relação à cepa e à doença. Além disso, a matriz na qual o probiótico é administrado é um fator que influencia a eficácia”, sinalizam. Desta forma, os profissionais da saúde precisam considerar os dois fatores ao prescrever o probiótico apropriado para um determinado paciente. O artigo ‘Probiotics in Pediatrics. A Review and Practical Guide’ foi publicado em 2021 na revista Nutrients.
