De acordo com uma previsão mundial, mais de 131 milhões de indivíduos terão a doença de Alzheimer até 2050, tornando-a um dos principais desafios globais de saúde no futuro. Embora a patogênese exata da enfermidade ainda não esteja clara, há evidências crescentes que revelam o envolvimento da microbiota intestinal na neuropatologia da doença de Alzheimer. Para investigar o tema, cientistas da Malásia desenvolveram uma revisão sistemática sobre evidências, diversidade de cepas bacterianas, defeitos do eixo intestino-cérebro, bactérias prejudiciais e mecanismo de ação dos probióticos na prevenção da enfermidade.
De acordo com os estudos analisados, a microbiota intestinal interage com a patogênese da doença de Alzheimer através de várias vias, dentre as quais neuroinflamação, desregulação do neurotransmissor e estresse oxidativo. Essas vias são desreguladas após um desequilíbrio na composição da microbiota e associadas ao aumento da permeabilidade da barreira hematoencefálica que promove neuroinflamação, perda de células neuronais e, finalmente, a própria doença. “A pesquisa mostra que a alteração na diversidade microbiana intestinal e os defeitos no eixo intestinal do cérebro estão ligados à doença de Alzheimer”, afirmam os autores.
Já está demonstrado, por exemplo, que os probióticos ajudam a preservar a integridade do revestimento intestinal, atuam como antibióticos e aumentam o fator neurotrófico derivado do cérebro. Esses fatores neurotróficos são compostos por um tipo de proteína que facilita a sobrevivência e a diferenciação dos neurônios, desempenhando um papel crucial no desenvolvimento neurológico. “Dificuldades de aprendizagem e deficiências de memória são alguns dos problemas comuns que tendem a surgir se esses fatores estiverem ausentes no cérebro”, ensinam os autores.
Assim, os efeitos dos probióticos no sistema nervoso central (SNC) são alcançados pela alteração da microbiota intestinal, aumentando a diversidade da boa composição bacteriana e, consequentemente, aumentando as funções do SNC. “Além do fator neurotrófico cerebral, os probióticos tendem a fornecer um bom prognóstico na cura de déficits de memória e distúrbios psiquiátricos, modificando diretamente componentes bioquímicos cerebrais, como serotonina, ácido γ-aminobutírico (GABA) e dopamina”, acentuam os cientistas.
Comprovações
Diante das evidências analisadas nos estudos, os autores da revisão sistemática afirmam que os probióticos comprovadamente restauram a homeostase da microbiota intestinal e retardam a progressão da doença de Alzheimer, particularmente devido à reação inflamatória e ao estresse oxidativo, melhorando o declínio cognitivo. “Numerosos ensaios in vivo e ensaios clínicos recentes comprovaram a eficácia de estirpes bacterianas selecionadas no abrandamento da progressão da enfermidade”, relatam.
Os microrganismos probióticos mais comumente utilizados pertencem aos gêneros Lactobacillus e Bifidobacterium. Como são livres de lipopolissacarídeos, não induzem nenhuma forma de inflamação após a ingestão. Além disso, Lactococcus, Streptococcus, Enterococcus, Bacillus clausii e Enterococcus faecium SF68 podem ser usados como probióticos. “O resultado mostrou que os probióticos são uma das melhores medidas preventivas contra o declínio cognitivo na doença de Alzheimer”, acentuam os autores da revisão.
A doença
A doença de Alzheimer é uma condição neurodegenerativa progressiva responsável por 80% da demência em todo o mundo, particularmente em idosos com mais de 60 anos. Caracterizada por deficiências significativas de memória, cognitivas e motoras, a patogênese está correlacionada principalmente com a proteína precursora amiloide (APP), uma transmembrana integral na via de processamento de proteínas.
Mutações na APP, Presenilina 1(PSEN1) e Presenilina (PSEN 2) são as principais causas do início precoce da doença. “Outros fatores, como estilo de vida, envelhecimento, dieta, ambiente e superexpressão do gene da apolipoproteína (Apo) E4, contribuem para o início tardio da doença de Alzheimer”, explicam os autores. O artigo ‘Probiotics for Alzheimer’s Disease: A systematic review’ foi publicado em 2021 no periódico Nutrients – doi.org/10.3390/nu14010020.