Amamentar é um ato natural, mas nem sempre é fácil, pois exige apoio, informação e empatia para que muitas mães possam superar os desafios físicos, emocionais e sociais. Para a ginecologista Silvia Regina Piza, o preparo para a amamentação deve começar assim que a mulher pensa em gestar. Assim, as informações, pretensões e restrições podem ser discutidas durante todo o período gestacional com o profissional que acompanha a gravidez, e também após o parto. Além disso, o estímulo ao aleitamento materno envolve questões sociais, culturais e econômicas que, muitas vezes, levam a mulher a desistir de amamentar.
A introdução de frutas e sucos precocemente, muitas vezes apoiada pelos profissionais da saúde, também faz com que ocorram menos mamadas e, consequentemente, menos produção de leite materno e de tempo de aleitamento. “Existe uma pressão social e familiar para introduzir outros alimentos antes dos seis meses de vida da criança. Essa prática considerada precoce é bem comum, uma vez que muitas mulheres precisam voltar a trabalhar quatro meses após o parto”, lamenta a ginecologista. Outra dúvida comum é o tempo da mamada. Entretanto, o indicado é que o bebê esgote totalmente uma mama e solte o bico sozinho. Só então a mãe deverá oferecer a outra mama e, se a criança recusar, é sinal de que está saciada. Em alguns casos, a falta de orientação adequada pode levar a intercorrências como ingurgitamento, fissuras e mastites, que prejudicam o aleitamento e provocam dor e desconforto nas mães lactantes.
A doutora Danielle Aparecida da Silva, coordenadora do Banco de Leite Humano do Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira da Fundação Oswaldo Cruz (IFF/Fiocruz), lembra que toda mulher com dúvidas ou sofrendo com o aleitamento pode buscar orientações junto às equipes dos bancos de leite humano. Estas unidades funcionam como casa de apoio à amamentação, com equipe de assistência desde a gestação e sempre que a mulher que amamenta necessitar. “Qualquer mulher que estiver em fase de lactação e quiser ser doadora também pode entrar em contato com o banco de leite mais próximo”, orienta.
Outro tópico cercado de dúvidas e, muitas vezes, de culpa, é o desmame, embora seja um processo que deve ser conduzido de forma respeitosa e partir da mãe ou do bebê. A orientação é alternar a amamentação com o alimento que vem sendo introduzido, aumentar o intervalo das mamadas e, aos poucos, fazer a transição de modo que não prejudique a criança. “Para a mãe, a introdução de outro alimento pode ser vista como um alívio, pois a amamentação demanda cerca de quatro horas por dia e não pode ser feita por outra pessoa. Por isso, sem apoio realmente fica muito difícil”, complementa a professora Eunice Francisca Martins.
O Brasil também mantém políticas públicas que protegem e promovem o estímulo ao aleitamento materno, como a licença-maternidade de 120 dias e licença-paternidade de sete dias. Além disso, a Iniciativa Hospital Amigo da Criança (IHAC) valoriza o aleitamento materno desde a primeira hora de vida. Já a Sala de Apoio à Mulher Trabalhadora que Amamenta estimula a criação de espaços nas empresas públicas ou privadas nos quais as lactantes podem amamentar ou coletar o leite com conforto, privacidade e segurança. “É fundamental que a sociedade compreenda a importância da amamentação para todos os envolvidos para que possamos ter uma população mais saudável no futuro”, acentua a doutora Danielle Aparecida da Silva. Para manter o controle da propaganda e venda de fórmulas e sucedâneos do leite humano foi criada, em 2006, a Norma Brasileira de Comercialização de Alimentos para Lactentes, Bicos, Mamadeiras e Chupetas (NBCAL), que estabelece regras para a promoção comercial, rotulagem e divulgação de alimentos e produtos de puericultura destinados a recém-nascidos e crianças de até três anos de idade. •