A obesidade infantil pode levar a doenças como hipertensão, diabetes, hiperlipidemia, gota, distúrbios cerebrovasculares, arteriosclerose e doença cardíaca isquêmica na idade adulta. Por isso, deve ser controlada ainda na infância para garantir uma vida adulta saudável. Atualmente, é aceito que a microbiota intestinal desempenha um papel na fisiopatologia da obesidade como um importante fator ambiental para geração de energia e regulação da inflamação. Também é consenso de que as bifidobactérias são mais dominantes na microbiota intestinal de crianças.
Além disso, há relatos do efeito das bifidobactérias na prevenção do diabetes tipo 1 na melhora da hipercolesterolemia em estudos com animais. Por isso, cientistas japoneses investigaram se a proliferação de bifidobactérias no intestino de crianças poderia melhorar a obesidade e as complicações associadas. Primeiro, foi comparada a microbiota intestinal basal entre crianças obesas e não obesas. Os resultados mostraram que as proporções de bifidobactéria em crianças obesas foram menores do que naquelas não obesas.
Em seguida, as crianças obesas ingeriram uma bebida contendo Lactobacillus casei Shirota (LcS) – que é um probiótico comprovado que aumenta a quantidade de bifidobactérias no intestino. Na sequência, foram examinados quaisquer efeitos potenciais dessa bebida na perda de peso, hiperlipidemia e redução de açúcar no sangue como desfecho primário. A melhora da disbiose intestinal e do ambiente microbiano foram considerados como desfechos secundários.
O estudo
Os cientistas realizaram dois estudos prospectivos. O primeiro foi um estudo comparativo da microbiota intestinal entre crianças obesas e não obesas. O segundo foi uma investigação dos efeitos do consumo da bebida contendo LcS na melhora da obesidade, hiperlipidemia e tolerância à glicose. Os participantes foram crianças obesas com índice de massa corporal (IMC) escala Z igual ou superior a 2,0 e crianças saudáveis não obesas que consultaram o Ambulatório de Pediatria do Hospital Universitário afiliado da Universidade Juntendo, no Japão. O produto teste foi o leite fermentado contendo Lactobacillus casei Shirota.
As duas investigações foram realizadas por meio de análise de amostras de fezes de todos os indivíduos no exame médico inicial. A análise avaliou a microbiota intestinal e a concentração de ácidos graxos nas fezes dos participantes de ambos os grupos. O grupo obeso foi submetido apenas à terapia de dieta e exercícios nos primeiros seis meses do período de observação e, em seguida, consumiu um frasco da bebida contendo LcS diariamente durante os últimos seis meses. Aos três e seis meses após o início da ingestão da bebida foram avaliados peso corporal, níveis de triglicerídeos no sangue periférico e no soro, nível de colesterol de lipoproteína de alta densidade (HDL) e nível de glicemia em jejum antes da ingestão do produto.
Importância das bifidobactérias
De acordo com os autores, espera-se que as bifidobactérias promovam a fermentação intestinal e redução da ingestão de alimentos, massa gorda e esteatose hepática. As bifidobactérias também são conhecidas por reduzir a permeabilidade intestinal e aliviar a endotoxemia. Além disso, promovem a secreção de insulina induzida pela glicose, ajudando a reduzir o ganho de peso corporal e a produção de mediadores inflamatórios. “Consistente com os achados de estudos anteriores, o presente estudo mostrou que o número de bifidobactérias fecais aumentou após o consumo de leite fermentado com LcS”, afirmam os autores.
Uma razão para a eficácia do LcS contra a obesidade pode ser que o ácido acético produzido pelas bifidobactérias intestinais endógenas, cuja proliferação é estimulada pelo LcS, suprime a proliferação de grupos de bactérias que causam obesidade. “Em outro estudo do nosso grupo, crianças não obesas apresentaram números reduzidos de Enterobacteriaceae fecais e números significativamente aumentados de bifidobactérias e lactobacilos totais após consumirem o leite fermentado contendo LcS”, informam os autores.
Conclusões
Os cientistas observaram reduções significativas nas concentrações fecais de bifidobactérias e ácido acético em crianças obesas que participaram do estudo. Portanto, a conclusão é de que o LcS contribuiu para a perda de peso. Ao mesmo tempo, melhorou o metabolismo lipídico em crianças obesas por meio de um aumento significativo nos números de bifidobactérias e na concentração de ácido acético.
De acordo com os autores, o mecanismo pelo qual o LcS estimula a proliferação de bifidobactérias ainda não foi totalmente esclarecido. “Entretanto, como são bactérias intestinais vulneráveis aos ácidos gástrico e biliar e muito difíceis de usar como probióticos, o consumo de leite fermentado contendo LcS pode representar uma estratégia para o tratamento da obesidade”, acreditam. O artigo ‘The effects of the Lactobacillus casei strain on obesity in children: a pilot study‘ foi publicado no periódico Beneficial Microbes em 2017 – doi: 10.3920/BM2016.0170.
O artigo completo pode ser lido na edição 96 da revista Super Saudável.
