O professor doutor Mauro Vaisberg, do Departamento de Otorrinolaringologia da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), destaca a ocorrência de um quadro gripal comum em atletas após esforços exaustivos. Estudando o assunto com maratonistas no Brasil ficou demonstrado que atletas com este tipo de quadro tinham uma produção exacerbada de fatores pró-inflamatórios na mucosa nasal – o que causava o quadro gripal. Em trabalho posterior, foi demonstrado que a inflamação de vias aéreas era corrigida com o uso do probiótico Lacticaseibacillus casei Shirota. “Entretanto, devemos lembrar que a corrida muitas vezes é feita ao ar livre, o que pode piorar o problema por ocorrer em ambiente poluído”, ressalta. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), 90% da população global vive em ambientes poluídos, o que pode prejudicar corredores de rua que, por estimativa, são 150 milhões no mundo.
De acordo com o professor, ao se exercitar ocorre uma hiperventilação e, automaticamente, a pessoa estará inalando mais poluentes, fato que tem sido estudado em várias pesquisas. Por exemplo, ao comparar corredores de rua com indivíduos sedentários expostos à poluição do inverno de São Paulo, o grupo da Unifesp demonstrou que, apesar da hiperventilação, esses corredores apresentavam menos inflamação de vias aéreas e maior quantidade de fatores protetores contra infecções na mucosa nasal. “Esse achado provavelmente se deve ao efeito anti-inflamatório gerado pela prática regular e moderada de exercícios. Apesar disso, devemos evitar correr próximo a locais com maior concentração de poluentes como vias com grande fluxo de veículos, e evitar locais mais poluídos”, sugere. O professor reforça que a poluição afeta os seres humanos desde a vida intraútero até a velhice, estando ligada a doenças pulmonares, cardiovasculares, cerebrovasculares, metabólicas e câncer.
Probióticos
Recentemente, vários estudos experimentais envolvendo poluição mostraram a ação protetora dos probióticos. “A poluição atinge a microbiota pulmonar e até a microbiota intestinal podendo causar uma disbiose, ou seja, uma alteração de composição e funcionamento da microbiota, que tem grande importância no metabolismo e no bom funcionamento do sistema imunológico”, adverte. Ao afetar o intestino, a poluição também leva a um acúmulo de produtos tóxicos e diminuição da produção de butirato – metabólito produzido pela microbiota que tem importante função na manutenção da integridade do epitélio intestinal.
Assim, aumenta a permeabilidade da parede intestinal com a saída de produtos tóxicos ao organismo, provocando uma inflamação sistêmica. No sistema imune, o material particulado induz resposta inflamatória pelos macrófagos, aumentando a produção de citocinas pró-inflamatórias e a geração de estresse oxidativo, que é altamente tóxico para células e tecidos. Essas citocinas induzem, posteriormente, à maior degradação da função de barreira da parede intestinal, além de inflamação sistêmica”, acentua.