A doença inflamatória intestinal (DII), composta pela doença de Crohn (DC) e colite ulcerativa (UC), é caracterizada por inflamação crônica associada à disfunção imunológica intestinal e ruptura da integridade da barreira intestinal. Alguns estudos recentes e ensaios clínicos têm mostrado que os probióticos poderiam ser usados como um novo agente terapêutico para prolongar a remissão. No entanto, uma vez que as cepas probióticas são conhecidas por envolverem interação altamente complexa com microrganismos comensais e/ou o hospedeiro, desmistificar o mecanismo subjacente de probióticos benéficos ainda é um grande desafio. Por isso, pesquisadores do Department of Advanced Convergence, Handong Global University, na República da Coreia, desenvolveram um estudo com cepas probióticas selecionadas com base em sua segurança e funcionalidade.
O objetivo do estudo ‘Discovering functional probiotics protecting against inflammatory bowel disease’ era a estabilização da microbiota e a busca de um potente candidato a probiótico para a DII. Para o experimento, foram usados quatro modelos de camundongos fêmeas C57BL / 6J livres de patógenos específicos (germ-free) – um para cada análise. Inicialmente, a investigação científica envolveu 58 candidatos a probióticos. No término das análises, seis probióticos sobraram como possíveis candidatos e as cepas Limosilactobacillus fermentum 858 e Latilactobacillus curvatus 391 foram selecionadas como potenciais probióticos contra colite.
“Ao final, a administração de Limosilactobacillus fermentum 858 ou Latilactobacillus curvatus 391 melhorou a perda de peso corporal induzida, encurtamento do comprimento do cólon, características histopatológicas e expressões moduladas de citocinas pró-inflamatórias e proteínas da junção apertada intestinal relacionadas a sintomas de DII”, relata o pesquisador professor Wilhelm Heinrich Holzapfel.
Além disso, a população de células T reguladoras induzíveis (Nrp-1-Helios-Foxp3+) no tecido do cólon foi significativamente aumentada no grupo tratado com Limosilactobacillus fermentum 858. O uso das cepas também aliviou a disbiose da microbiota intestinal e alterou a composição dos metabólitos. Os resultados mostraram que, em conjunto, a proteção de Limosilactobacillus fermentum 858 e Latilactobacillus curvatus 391 contra a colite seria um efeito abrangente mediado por mecanismos dependentes da microbiota e direcionados ao hospedeiro.
Biomarcadores
Na aula ‘Microbiome and atherosclerosis biomarkers or how we could prevent age- and stress- relevant diseases individually’, a pesquisadora principal Nadiya Boyko, chefe do Departamento de Disciplinas Médicas e Biológicas da Uzhhorod National University, na Ucrânia, lembrou que existe uma enorme variabilidade de microbiomas humanos e, de fato, ainda não há consenso médico sobre a definição uniforme do que significa microbioma saudável e o que significa disbiose real. Portanto, para obter respostas concretas sobre biomarcadores microbianos, é necessário desenvolver estudos prospectivos de observação e intervenção.
“Estamos fazendo estudos de coorte com uma variedade diferente de pessoas focadas em algumas condições como aterosclerose, estresse, transtorno de estresse pós-traumático e doenças relevantes para a idade. Para isso, estamos usando nossos instrumentos preliminares desenvolvidos, como bancos de dados de compostos bioativos vegetais, bancos de dados clínicos específicos e nosso algoritmo exclusivo chamado sistema de informação para diagnósticos individuais precisos e correção individual do microbioma, direcionado para prevenção e tratamento de doenças não transmissíveis com produtos farmacêuticos recém-desenvolvidos e nutrição individual”, descreve.
O algoritmo foi aplicado para correção direcionada de diferentes composições de microbioma, específicas para o estágio da doença com base no perfil ômico individual por nutrição individual, recomendação de atividade e reabilitação físico-psicológica, retransmissão do estilo de vida e poluição, entre outros. Na análise genômica, aproximadamente 400 gêneros microbianos foram identificados e 70 foram identificados em nível de espécie.
Com isso, o grupo de pesquisa da Uzhhorod National University descobriu marcadores únicos de inflamação crônica e elasticidade vascular (um número aumentado de Oscillospiraceae UCG-002, Fusicatenibacter, Erysipelotrichaceae UCG-003, Christensenellaceae grupo R-7, Monoglobus, Muribaculaceae, Coriobacteriales, Anaerovoracaceae e Eggerthellaceae) e novos biomarcadores de sintomas precoces desses distúrbios (Veillonellaceae, Muribaculaceae, WPS-2 Archaea, Succinivibrio, Elusimicrobium, Akkermansiaceae e Bacteroides).
“Descobrimos que todas essas bactérias têm taxas realmente significativas e podem ser priorizadas como gatilhos para o desenvolvimento da doença aterosclerótica”, afirma. De acordo com essa fundamentação, a correção do microbioma por vários bióticos é proposta com base nos princípios da Medicina 4P (Prevenção, Predição, Participação e Personalização), e alguns já estão sendo produzidos na Ucrânia e Bulgária. As pesquisas são apoiadas pelo Ministério da Ciência e Educação da Ucrânia.