Com o objetivo de mapear o segmento populacional e entender o estilo de vida da população mais longeva de Santa Catarina, desde 2010 o Laboratório de Gerontologia (LAGER) do Centro de Ciências da Saúde e do Esporte (CEFID) da Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC) desenvolve o Projeto SC100 – Estudo Multidimensional dos Centenários de Santa Catarina. A pesquisa pioneira e de cunho epidemiológico tem uma metodologia para entrevistas e avaliação física in loco para obter o máximo de informações que expliquem quais fatores levam algumas pessoas a terem uma maior expectativa de vida.
A educadora física Giovana Zarpellon Mazo, professora titular do Programa de Pós-graduação em Ciências do Movimento Humano do CEFID/UDESC e coordenadora do Projeto SC100, afirma que as pesquisas com idosos longevos são desafiadoras pois, devido às limitações cognitivas, funcionais e físicas, pode ser difícil envolvê-los no processo de coleta de dados. “Assim, para mapear com mais riqueza de detalhes desenvolvemos instrumentos específicos para facilitar esse processo, como os Protocolos de Avaliação Multidimensional do Idoso Centenário (PAMIC) e de Avaliação Multidimensional do Cuidador do Idoso Centenário (AMCIC)”, relata. Além disso, o grupo desenvolveu os manuais do entrevistador e do cuidador para orientar os pesquisadores na coleta, aplicação e análise dos dados.
Dos 123 centenários catarinenses pesquisados, 74% são do sexo feminino e 86,2% são viúvos. Dependentes de cuidadores, 84,6% deles residem com a família, enquanto 15,4% vivem em Instituições de Longa Permanência (ILPI) há 7,6 anos, em média. “Cerca de 70% dos centenários dependem exclusivamente do Sistema Único de Saúde (SUS) para cuidados devido à multimorbidade e ao uso contínuo de medicamentos”, observa a pesquisadora. Entre as condições clínicas relatadas estão comprometimento cognitivo, dificuldades auditivas, doenças circulatórias, oftalmológicas e do sistema urinário. Apesar de a saúde ser frágil em decorrência da baixa atividade física e da redução da velocidade de marcha, a maioria dos centenários relata ter uma qualidade de vida positiva, especialmente no ambiente em que vivem.
Lazer
Em um estudo qualitativo sobre o lazer nas diferentes fases da vida, os pesquisadores identificaram uma variedade de atividades. Na infância, as categorias observadas incluíram escolarização, brincadeiras, viagens, atividades culturais e manuais. Na adolescência, as principais atividades foram trabalho, bailes, namoro, laçar gado e atividades culturais. Já na fase adulta, destacaram-se trabalho, viagens, passeios e atividades manuais. Durante a velhice, as atividades principais passaram a ser viagens, trabalho e assistir à televisão, enquanto na fase atual os centenários também destacam as práticas religiosas e os passeios. “Embora as atividades sociais tenham permanecido presentes em boa parte de suas vidas, os resultados mostram que as atividades de lazer foram reduzidas ao longo do tempo”, descreve a pesquisadora Giovana Zarpellon Mazo.
Os centenários avaliados também apresentam pouca participação em grupos sociais, com atividades cotidianas restritas ao ambiente domiciliar envolvendo cuidados e contato com familiares, além de lazer passivo. A pesquisadora comenta que, entre aqueles com cognição preservada e ativos fisicamente, as atividades de lazer incluem visitas a familiares, jardinagem, dança, ida à igreja e até cavalgadas, indicando envolvimento em atividades externas e relações sociais mais amplas. Por outro lado, os centenários insuficientemente ativos realizam atividades mais passivas, como assistir à televisão, ouvir rádio e música, ler e jogar baralho – geralmente dentro do ambiente residencial.
Políticas públicas
De acordo com a professora Giovana Zarpellon Mazo, ao oferecer informações importantes sobre o perfil sociodemográfico, de saúde, hábitos de vida e aspectos cineantropométricos e físicos predominantes, o estudo evidencia a necessidade de políticas públicas voltadas à promoção da saúde, prevenção de doenças e incapacidades para este grupo da população. “Pensando no envelhecimento saudável é preciso melhorar o acesso aos serviços de saúde, especialmente com a ampliação das equipes para cuidados multidisciplinares e com maior cobertura de ILPI públicas que atendam os centenários em situação de fragilidade, vulnerabilidade e risco social”, avalia. A pesquisa propõe, ainda, a realização de estudos longitudinais e epidemiológicos com centenários em diferentes estados do Brasil, considerando as características regionais, ambientais e culturais. •