A doença de Alzheimer é uma condição neurodegenerativa crônica que afeta especialmente a população idosa, cuja incidência vem crescendo exponencialmente no Brasil devido ao envelhecimento da população. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), de 2010 a 2022 esse grupo etário cresceu 57,4%, enquanto a população geral aumentou apenas 6,5%. Frente a essa nova realidade, diferentes associações buscam criar novas diretrizes para o diagnóstico e tratamento da doença de Alzheimer. O objetivo é melhorar o acompanhamento e a qualidade de vida dos pacientes, buscando terapias mais direcionadas e apoio mais eficaz às famílias e aos cuidadores.
Segundo a Americas Health Foundation (AHF), a ideia de que a doença de Alzheimer é um problema de países de alta renda vem mudando. Assim, é explícito o aumento da prevalência da enfermidade na América Latina e no Caribe, que têm condições geográficas, étnicas, culturais e econômicas variadas. A associação fornece essas diretrizes no artigo ‘A task force for diagnosis and treatment of people with Alzheimer’s disease in Latin America’, criado por um painel multidisciplinar de especialistas de Argentina, Brasil, Colômbia, Equador, Guatemala, México e Peru para ajudar a região a superar os obstáculos associados ao diagnóstico e ao tratamento.
As diretrizes levam em consideração a comprovação de que o avanço da idade é um dos riscos para desenvolver a doença de Alzheimer, assim como o fato de a população mundial estar envelhecendo. Neste século, esse processo ocorre de forma acelerada em países de baixa e média renda, representando significativos desafios para a saúde pública. Na América Latina e no Caribe, por exemplo, a expectativa de vida ao nascer foi estimada em 72,2 anos em 2021 e deverá atingir 80,6 anos em 2050 – segundo relatório da Organização das Nações Unidas (ONU).
“Nos países de alta renda, esse processo de transição demográfica já é uma realidade e teve um tempo diferenciado. Por exemplo, a França levou 157 anos para que a população com 65 anos ou mais passasse de 7% para 21%. No Brasil, esse processo vai acontecer em 48 anos, pois a estimativa é de que em 2050 esse grupo chegue a 21% da população total”, sinaliza o médico neurologista Paulo Caramelli, professor da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e um dos autores do relatório.
Outro ponto destacado é a subnotificação da doença de Alzheimer, que representa mais de 50% dos casos de demência – cujas manifestações clínicas culminam em incapacidade progressiva que levam à perda de funcionalidade e, eventualmente, à morte. Segundo o Relatório Nacional de Demência do Ministério da Saúde, divulgado em setembro de 2024, estima-se que em 2019 havia 2,46 milhões de brasileiros com 60 anos ou mais já com diagnóstico. Em contrapartida, o documento observa que o número de casos sem diagnóstico no País ainda é de cerca de 80%, ou seja, apenas duas pessoas em cada 10 estão diagnosticadas.
A neurologista Sonia Brucki, coordenadora do Grupo de Neurologia Cognitiva e do Comportamento do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HC-FMUSP) e uma das autoras das diretrizes, informa que a doença de Alzheimer enfrenta desafios, especialmente pela escassez de acesso a exames especializados e de profissionais capacitados em muitas regiões. Esse cenário dificulta o diagnóstico precoce, essencial para retardar a progressão dos sintomas e melhorar a qualidade de vida do paciente. “O diagnóstico é baseado em estudo cuidadoso do paciente para observar sintomas e sinais, fazer imagem de ressonância ou tomografia, assim como exame de sangue para afastar outras causas e, se necessário, biomarcadores. Mas os países não têm o aporte econômico para fazer todos esses exames”, sinaliza.