Na apresentação ‘The microbiota-immune system axis in probiotics functions’, a imunologista e professora doutora Gislane Lelis Vilela de Oliveira, do Departamento de Genética, Microbiologia e Imunologia do Instituto de Biociências da UNESP-Botucatu, ressaltou que vários fatores podem impactar a microbiota intestinal e prejudicar a resposta imune em várias condições. Além disso, sinais provenientes da microbiota modulam a hematopoese e a função das células mieloides, impactando nas respostas imunes a infecções. A microbiota fornece, ainda, sinais necessários para a função fagocítica dos macrófagos, maturação de células dendríticas e para a citotoxicidade das células NK.
A secreção de citocinas inflamatórias pelas células imunes inatas também é prejudicada na ausência da microbiota comensal, assim como o influxo de neutrófilos para locais de inflamação e infecção, retardando a eliminação de patógenos. “Também não podemos ignorar a influência dos ácidos graxos de cadeia curta na regulação da imunidade de mucosa. Por exemplo, o butirato sinaliza por meio de receptores acoplados à proteína G e pode regular o homing e a diferenciação de células da imunidade inata e adaptativa, modificando o equilíbrio entre citocinas pró-inflamatórias e anti-inflamatórias na lâmina própria”, acentua.
Este metabólito também influencia a capacidade das células dendríticas de induzir células T reguladoras e secreção de interleucina IL-22 pelo subconjunto de células linfoides inatas do tipo 3, além de influenciar a secreção de imunoglobulina A (IgA) e a função das células T CD8. A pesquisadora explica que as células hospedeiras que têm mais interação com os probióticos são as células epiteliais intestinais – quando as bactérias obtêm acesso através da camada de muco.
Essas células interagem e respondem aos probióticos por meio de seus receptores de reconhecimento de padrões, principalmente por receptores do tipo Toll. “Vários mecanismos de ação dos probióticos têm sido propostos e muito do nosso conhecimento sobre os benefícios dessas cepas é baseado em pesquisas utilizando experimentos in vitro e modelos animais. No entanto, nem todos os mecanismos foram confirmados em humanos, nem existem em todas as cepas probióticas”, ressalta.
Assim, o efeito dos probióticos depende da comunicação tridirecional entre o probiótico consumido, a microbiota residente e as células do hospedeiro. “Os probióticos também podem interagir com as células dendríticas intestinais, que são cruciais na imunidade inata e adaptativa. Nesse contexto, os probióticos apresentam dois impactos imunomoduladores diferentes no hospedeiro e podem induzir respostas imunes anti ou pró-inflamatórias”, detalha.
De acordo com a professora, alguns estudos mostraram que certos probióticos têm um perfil mais imunoativador, induzindo citocinas inflamatórias, como IL-6 ou interferons e, assim, aumentando a imunidade contra infecções também em locais extraintestinais. As diferentes atividades regulatórias de cada cepa probiótica estão ligadas à sua estrutura, às moléculas liberadas e às várias vias que podem ser ativadas simultaneamente.