Os países da América Latina têm diferentes nuances culturais, linguísticas e ideológicas que determinam a detecção, o tratamento e o prognóstico da doença de Alzheimer. No entanto, os principais obstáculos para a detecção precoce são os conceitos errôneos em torno do comprometimento da memória, do treinamento no nível de atenção primária e da disponibilidade de especialistas. O diagnóstico na região, atualmente, é baseado principalmente em informações clínicas e testes cognitivos. Afinal, os biomarcadores e exames de imagem são limitados a alguns centros e o estudo genético é muito pouco acessível.
A médica neurologista Elisa de Paula França Resende, coordenadora do Departamento Científico de Neurologia Cognitiva e do Envelhecimento da Academia Brasileira de Neurologia (ABN) e professora da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), pontua que no Brasil há falta de conhecimento por parte dos profissionais de atenção primária que deveriam diagnosticar a doença. “Hoje, por meio de estudos e da existência de variantes não amnésicas, sabe-se que o comprometimento da memória passou a não ser mais obrigatório para o diagnóstico da doença, como mostram os critérios diagnósticos mais recentes da Academia Brasileira de Neurologia, baseados no National Institute on Aging-Alzheimer’s Association”, pontua.
Além disso, a médica sinaliza que uma barreira para o diagnóstico precoce está na impossibilidade de fazer exames de imagem, como tomografia e ressonância magnética, para descartar outras causas dos sintomas e também para identificar padrões de atrofia cerebral que sugerem a doença de Alzheimer. Isso porque são exames que estão disponíveis apenas na atenção secundária, que possui fila e prioriza pacientes com outras doenças, como o câncer. Outra forma possível de comprovar a doença são os exames com biomarcadores que, por meio do líquido cefalorraquidiano (líquor), dosam as proteínas do Alzheimer. “Esses exames são indicados em casos de demência de início pré-senil com apresentação ou curso clínico atípicos, hidrocefalia comunicante e quando há suspeita de doença inflamatória, infecciosa ou priônica do sistema nervoso central. Mas são de alto valor financeiro, ainda não estão disponíveis no Sistema Único de Saúde (SUS) e não têm cobertura dos planos de saúde”, acentua.
Recomendações
Em 2022, a ABN desenvolveu o artigo ‘Diagnóstico da doença de Alzheimer: recomendações do Departamento Científico de Neurologia Cognitiva e do Envelhecimento da Academia Brasileira de Neurologia’ que traz recomendações para o diagnóstico da doença propondo protocolos em nível de atenção primária, secundária e terciária. No documento, disponível gratuitamente no site da Instituição, constam os instrumentos de avaliação clínica, cognitiva e funcional, exames laboratoriais e de neuroimagem complementares, bem como a utilização de biomarcadores.
A neurologista Elisa de Paula França Resende pontua que, embora ainda não exista tratamento curativo, o diagnóstico precoce facilita a introdução de tratamentos que alentecem a progressão da doença e aumentam a sobrevida – por ser uma enfermidade que causa a morte do paciente por complicações indiretas. “No estágio final, a pessoa fica acamada, não consegue mais comer, fica anêmica e pode ter trombose venosa ou pneumonia, e acaba morrendo dessas complicações secundárias. O diagnóstico também prepara a família para o futuro com o objetivo de organizar a vida pessoal antes da progressão da doença”, detalha.