O diabetes mellitus é uma condição silenciosa que, em muitos casos, se manifesta já com sintomas graves e irreversíveis. Com causa multifatorial e multissistêmica, é uma das doenças crônicas mais prevalentes em todo o mundo. De acordo com dados do Ministério da Saúde, o Brasil ocupa o quinto lugar em incidência do diabetes. A enfermidade acomete 10,2% da população brasileira, o equivalente a 16,8 milhões de pessoas. Por ser geralmente assintomática, os exames de rastreamento para diabetes são fundamentais para diagnóstico precoce e monitoramento da doença.
Caracterizado como uma síndrome do metabolismo de origem múltipla, o diabetes mellitus ocorre quando o pâncreas não produz uma quantidade suficiente de insulina. Além disso, o órgão pode não responder normalmente à insulina, fazendo com que o nível de açúcar (glicose) no sangue fique elevado (hiperglicemia) de forma permanente. A doença pode interferir em diversos aspectos do funcionamento do organismo e se manifesta em tipos distintos.
“O diabetes tipo 1, que acomete de 5% a 10% dos pacientes, é autoimune e causada pela destruição das células produtoras de insulina, em decorrência de um defeito no sistema imunológico”, explica o médico endocrinologista e patologista clínico Pedro Saddi Rosa, membro da Sociedade Brasileira de Patologia Clínica e Medicina Laboratorial (SBPC/ML). Já no tipo 2, que representa 90% dos casos, a produção de insulina existe, mas não é suficiente para manter o açúcar em níveis normais. Enquanto o diabetes tipo 1 acomete principalmente crianças e adolescentes, o tipo 2 é diagnosticado geralmente em adultos, assim como em crianças e adolescentes com quadro de obesidade.
Gestação
Outra manifestação é o diabetes gestacional. Caracterizado por uma resistência insulínica provocada pelos hormônios da gestação, geralmente ocorre no terceiro trimestre da gravidez. Isso ocorre porque a demanda nutricional da gestante aumenta e ela passa a ingerir mais carboidratos para fornecer quantidades ideais de glicose para o bebê. “Com isso, a produção de insulina pelo pâncreas pode ficar suprimida, resultando no desenvolvimento do diabetes”, destaca o especialista.
As estimativas indicam que o diabetes gestacional ocorre em até 20% das gestações, podendo afetar inclusive mulheres sem histórico pessoal e familiar da doença. Apesar de geralmente desaparecer após o parto, as mães que desenvolvem diabetes gestacional têm um risco aumentado de, futuramente, desenvolver o tipo 2 da doença.
Diagnóstico e tratamento precoces
Quanto antes a doença for identificada, maiores serão as chances de prevenir complicações e melhor será a resposta ao tratamento. O diagnóstico de diabetes mellitus deve ser estabelecido pela identificação de hiperglicemia. Para isso, o especialista deve solicitar exames como a glicemia plasmática de jejum, o teste de tolerância oral à glicose (TOTG) e a hemoglobina glicada (HbA1c). Os exames de rastreamento para diabetes em pacientes assintomáticos é recomendado em algumas situações (veja quadro).
O médico Pedro Saddi Rosa comenta que, para confirmação do diagnóstico caso o resultado inicial de um exame for anormal, os testes devem ser repetidos – exceto na presença de sintomas clássicos de hiperglicemia. “A anormalidade de resultado pode ocorrer no exame de hemoglobina glicada (HbA1c), por exemplo, que sofre interferência de algumas condições como anemia, hemoglobinopatias e uremia. Além disso, outras situações como trauma físico ou emocional e uso de determinados medicamentos e infecções podem alterar o metabolismo de carboidratos’, descreve. Pessoas com diabetes também podem monitorar seus próprios níveis de glicose e ajustar a medicação de acordo com as instruções do médico. Para isso, basta medir a glicemia em casa com uso do glicosímetro.
Recomendação de exames de rastreamento de diabetes
- Casos de excesso de peso
- Idade igual ou maior de 45 anos
- Tolerância à glicose diminuída ou glicemia de jejum alterada
- Histórico familiar de diabetes ou de doença cardiovascular
- Relato de diabetes gestacional
- Hipertensão arterial
- Dislipidemia
- Síndrome de ovários policísticos
- Sedentarismo