O transplante renal é o único meio para manutenção da vida de pacientes com doença renal terminal. Porém, nem sempre está à disposição dos que aguardam ou necessitam de um órgão, uma vez que o procedimento exige um doador vivo ou falecido – consanguíneo ou não. Atualmente, existem novas técnicas cirúrgicas aprimoradas, esquemas de terapia imunossupressora, profilaxia antimicrobiana e medidas de prevenção de infecção no manejo de pacientes transplantados. Entretanto, as infecções de natureza microbiana ainda constituem as principais causas de morbidade e mortalidade em pacientes transplantados de órgãos sólidos, a exemplo das infecções do trato urinário.
Para analisar as infecções de natureza microbiana, um grupo de pesquisadores do Hospital Geral de Fortaleza, no Ceará, analisou o perfil de microrganismos e resistência aos antimicrobianos em uroculturas de pacientes transplantados renais. O estudo transversal com análise quantitativa dos dados de uroculturas positivas envolveu transplantados renais entre janeiro de 2021 e dezembro de 2022. “Empregamos um instrumento de pesquisa elaborado, contendo variáveis classificatórias, e os dados foram obtidos por meio de registros das uroculturas existentes no sistema de prontuário eletrônico utilizado pelo hospital”, pontuam os pesquisadores.
Presença de microrganismos
A pesquisa mostrou que, das 534 uroculturas avaliadas, 36,7% apresentaram resultado positivo para microrganismos – sendo 60,4% de mulheres com idades entre 20 e 59 anos. A maioria dos casos foi desenvolvido por pacientes que receberam acompanhamento ambulatorial. Os microrganismos isolados foram predominantemente enterobactérias, com prevalência de Escherichia coli. Os perfis de sensibilidade antimicrobiana variaram, com a resistência da E. coli a antibióticos como ampicilina, ácido nalidíxico, norfloxacino e ciprofloxacino.
De acordo com os pesquisadores, a monitorização da resistência aos antibióticos pode ajudar na escolha de uma terapia mais eficaz. Portanto, os estudos de vigilância são uma ferramenta importante para fornecer informações sobre os padrões de suscetibilidade aos antimicrobianos. Assim, a meta é melhorar a terapia empírica ou guiada, reduzir o tempo de hospitalização e acelerar a recuperação.
Achados
“Os resultados desta análise oferecem informações acerca das características epidemiológicas e microbiológicas desse grupo específico”, pontuam os responsáveis. A taxa de positividade das uroculturas encontradas destaca a relevância clínica nesse público, evidenciando a necessidade de estratégias específicas de prevenção e tratamento. Além disso, a predominância em mulheres de meia-idade e oriundas do ambulatório ressalta a importância de considerar a demografia na abordagem clínica, dando enfoque em abordagens diferenciadas para diferentes grupos de pacientes transplantados renais.
Ademais, a diversidade de microrganismos identificados e a variação na sensibilidade antimicrobiana, com predominância de enterobactérias, revelam a complexidade em torno dessas infecções. Além disso, ressaltam a importância da análise minuciosa e multidisciplinar na abordagem dos pacientes portadores de infecções de trato urinário, considerando a resistência específica de cada microrganismo.
De acordo com as características demográficas e microbiológicas identificadas, a implementação de protocolos personalizados pode melhorar significativamente a gestão clínica desses pacientes e a qualidade de vida após o transplante, assim como otimizar os cuidados de saúde. O artigo ‘Perfil da microbiota e padrões de resistência aos antimicrobianos em uroculturas de pacientes transplantados renais’ foi publicado em 2024 no Journal of Health and Biological Sciences.