Interesse crescente na microbiota nasal

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Microbiota nasal nas doenças pulmonares

Escrito por: Elessandra Asevedo

Um número grande de estudos investiga as diferentes microbiotas humanas e o papel que desempenham no desenvolvimento de doenças, na manutenção da saúde e na sinalização equilibrada para o cérebro. Um interesse crescente na microbiota nasal surge por causa do papel que possui na saúde respiratória e da proximidade com o cérebro, além das possíveis implicações em doenças neurodegenerativas e do potencial diagnóstico e terapêutico não investigado.

Muitas das pesquisas centradas na microbiota ainda se concentram no eixo intestino-cérebro. No entanto, o eixo nariz-cérebro é importante no papel na modulação do sistema imunológico, na homeostase respiratória local e, em última análise, na influência sobre o sistema nervoso. Os dados atuais demonstram que a microbiota nasal contém um conjunto único e altamente variável de bactérias comensais e patógenos oportunistas.

Devido ao interesse crescente na microbiota nasal, pesquisadores da Lituânia analisaram a composição da microbiota do trato respiratório superior de lituanos para estabelecer um quadro preliminar de um microbioma nasal saudável em comparação com um microbioma doente e selecionar possíveis biomarcadores para uma detecção menos invasiva de condições de saúde das vias aéreas superiores. “É preciso compreender como aproveitar o conhecimento atual, enriquecer a microbiota nasal com microrganismos benéficos e prevenir desenvolvimentos patogênicos”, descrevem.

De acordo com os cientistas, as comunidades microbianas nasais são significativamente menos abundantes do que as do intestino, mas ainda assim diversas e pouco estudadas. “O nariz humano abriga uma comunidade bacteriana complexa onde dominam os filos Actinobacteria, Firmicutes e Proteobacteria, enquanto Fusobacteria e Bacteroidetes estão presentes em quantidades significativamente menores”, informam os autores.

Os gêneros mais comuns nas cavidades nasais saudáveis ​​​​foram relatados anteriormente como Corynebacterium, Propionibacterium, Streptococcus, Staphylococcus, Moraxella, Haemophilus. “Entretanto, a composição e a diversidade desta comunidade é muito dinâmica e varia sob a influência de muitos fatores, por exemplo, idade, doenças, tabagismo, medicamentos utilizados, fatores ambientais e outras microbiotas”, sinalizam.

O estudo

Amostras das vias aéreas superiores, cavidade nasal e nasofaringe foram coletadas de 97 participantes, sendo que 43 eram voluntários saudáveis, ou seja, sem doenças do trato respiratório, e 30 ​​eram donos de animais de estimação peludos. Além disso, 11 voluntários saudáveis ​​trabalhavam na destilaria de ervas, onde os compostos orgânicos voláteis derivados de plantas permanecem em números elevados durante todo o dia.

Os demais 54 participantes do estudo sofriam de doenças inflamatórias crônicas do trato respiratório, sendo 47 diagnosticados com bronquiectasia no momento da amostragem e 7 com outras doenças pulmonares inflamatórias crônicas não diagnosticadas no momento da amostragem. “Para comparar a microbiota do trato respiratório superior e inferior foram coletadas amostras de esfregaços nasais e nasofaríngeos representando o trato respiratório superior, e líquido de lavado broncoalveolar ou aspirado brônquico foram coletados por broncoscopia, representando o inferior”, detalham os autores.

Achados importantes

Com os resultados encontrados, os pesquisadores acreditam que o microbioma nasal humano pode ser usado como representante das vias aéreas superiores. No entanto, não houve correlação entre o nariz e a composição do microbioma das vias aéreas inferiores no estudo. Na microbiota nasal dos participantes com doença foram encontrados patógenos oportunistas, principalmente pertencentes ao filo Proteobacteria, que poderiam ser utilizados como indicadores de condições do trato respiratório.

Além disso, o microbioma nasal humano saudável abrigou vários representantes de microbiotas associadas a plantas e abelhas, sugerindo a possibilidade de enriquecer a microbiota nasal humana através de tais exposições, quando necessário. “Certas cepas de microbiomas nasais humanos saudáveis ​​podem ser consideradas como futuros probióticos aplicáveis ​​no trato respiratório”, sugerem os cientistas.

Entretanto, esses candidatos a probióticos devem ser investigados pelos efeitos moduladores nas vias aéreas e nos epitélios pulmonares, propriedades imunogênicas, conteúdo de neurotransmissores e papéis na manutenção da saúde respiratória e nas inter-relações nariz e cérebro. O artigo ‘Human nasal microbiota shifts in healthy and chronic respiratory disease conditions’ foi publicado no periódico BMC Microbiology em 2024.

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