Diversos fatores e mecanismos podem levar a distúrbios na microbiota oral, entre os quais o tabaco. Utilizando amostras de placa subgengival, um estudo sul-africano analisou o efeito do tabagismo na microbiota oral. O resultado mostrou que o hábito de fumar causa um desequilíbrio nas bactérias orais em resposta a alterações no sistema imunológico inato. Sendo assim, predispõe ao desenvolvimento e à progressão da doença periodontal.
Para analisar associação do tabagismo na microbiota oral, o estudo caso-controle comparou a microbiota oral de 57 fumantes e 66 não fumantes sul-africanos. De acordo com os autores, foi observada concordância entre os níveis séricos de cotinina (metabólito da nicotina) e as respostas dos participantes em relação ao tabagismo. Entretanto, a proteína C-reativa ultrassensível (PCR), um indicador de inflamação, estava ligeiramente elevada em fumantes. Além disso, ao avaliar tanto o sangramento gengival quanto o estado periodontal de fumantes e não fumantes, não foi encontrada significância entre os grupos.
Entretanto, a análise do sequenciamento do gene 16S rRNA demonstrou diferenças significativas na distribuição de bactérias na microbiota oral de fumantes em todos os níveis taxonômicos, incluindo filos, gêneros e espécies”, informam. Por exemplo, os gêneros Fusobacterium e Campylobacter foram encontrados em maior abundância – microrganismos anaeróbios que têm sido associados à progressão da doença periodontal. As espécies F. nucleatum, C. gracilis, V. rogosae, F. canifelinum e A. odontolyticus também estavam enriquecidas entre indivíduos fumantes.
Enquanto F. nucleatum é supostamente um patógeno importante na doença periodontal grave, incluindo gengivite, F. canifelinum desempenha um papel vital na função do biofilme subgengival. Ao mesmo tempo, Campylobacter matruchotii, Actinomyces dentalis, Actinomyces naeslundii, Campylobacter sputigena e Streptococcus sanguinis foram menos abundantes em fumantes. Além disso, os achados mostraram que havia abundância reduzida de Actinobactérias nos participantes fumantes. “Essas espécies são microrganismos anaeróbios gram-negativos que residem como comensais na cavidade oral”, explicam os autores.
Assim, as descobertas sugerem que fumar induz um ambiente anaerobicamente rico que favorece bactérias gram-negativas. “As diferenças na microbiota oral dos fumantes podem ser explicadas pelos antibióticos tóxicos produzidos pelos cigarros ou pelas bactérias que competem pela colonização e agregam-se com microrganismos esgotados pelo fumo”, avaliam. A pesquisa mostrou, ainda, que a diversidade de espécies microbianas orais é conservada em indivíduos saudáveis, enquanto se espera que a abundância seja diferente em condições patológicas.
De acordo com os autores, ao destacar diferenças significativas na microbiota oral de fumantes com uma abundância de bactérias gram-negativas anaeróbias, os resultados sugerem que fumar permite que certos microrganismos orais ganhem domínio. Dessa forma, indivíduos fumantes são mais predispostos ao desenvolvimento e à progressão da doença periodontal.
Limitação
O trabalho foi considerado limitado pelo fato de ser um estudo caso-controle com uma pequena amostra. Portanto, para investigar minuciosamente os efeitos do tabagismo na microbiota oral e na saúde, pesquisas futuras devem incluir estudos longitudinais em coortes maiores. Além disso, os autores recomendam novas abordagens, como razões logarítmicas e metodologias de classificação diferencial usando análise de regressão multinominal.
Apesar dessas limitações, a conclusão é que a microbiota subgengival dos fumantes demonstrou um microbioma anaeróbio gram-negativo altamente diversificado, rico em patógenos, que está mais alinhado com uma comunidade associada à doença periodontal em indivíduos clinicamente saudáveis. O artigo ‘The effect of cigarette smoking on the oral microbiota in a South African population using subgingival plaque samples‘ foi publicado 2024 na Heliyon – revista científica online livre da Elsevier.