A endometriose é uma condição ginecológica na qual o tecido endometrial cresce fora do útero. Essa doença inflamatória crônica tem etiologias multifatoriais. Assim, a endometriose pode ser causada por fatores genéticos e ambientais, alterações hormonais e imunológicas e alterações no microbioma.
Numerosos estudos estabeleceram uma conexão entre alterações no microbioma e várias doenças inflamatórias, incluindo a endometriose. Por exemplo, estudos mostram que os níveis de ativação do sistema complemento na vagina – conjunto de proteínas que ajuda o corpo a se defender de infecções e lesões – se correlacionam com a composição microbiana local.
O sistema complemento é uma das vias mais frequentemente desreguladas na endometriose. Além dos efeitos protetores da microbiota vaginal/endometrial endógena, infecções por patógenos neste local são prevenidas por componentes locais dos sistemas imunológicos inato e adaptativo, como a lectina do complemento.
A lectina ligadora de manose, uma molécula de reconhecimento de padrões de carboidratos, é o primeiro subcomponente de reconhecimento descrito da via da lectina do complemento. Entretanto, os mecanismos moleculares exatos que sustentam essas interações ainda são pouco compreendidos.
Assim, pesquisadores italianos resolveram investigar a interconexão entre a lectina do complemento e a microbiota na patogênese da endometriose. Os cientistas exploraram como a funcionalidade da cascata do complemento ativada pela lectina ligadora de manose pode influenciar a colonização microbiana do endométrio. Além disso, investigaram como a disbiose uterina pode estar associada ao desenvolvimento da doença.
Deficiência
Para o trabalho, participaram pacientes com endometriose inscritas na Clínica de Endometriose do Hospital IRCCS Burlo Garofolo, e controles saudáveis. Os níveis e a funcionalidade da lectina do complemento foram avaliados pelo teste Enzyme-Linked Immunosorbent Assay (ELISA). Variantes genéticas da lectina ligadora de manose e os microbiomas endometrial e vaginal também foram investigados e correlacionados.
De acordo com os pesquisadores, embora não estatisticamente significativo, o estudo indica que o grupo de mulheres com a doença representa uma porcentagem maior de pessoas com deficiência de lectina do complemento. “Além disso, esse grupo apresenta uma distribuição mais ampla das concentrações circulantes de lectina ligadora de manose, sendo que os níveis se correlacionam com a gravidade da condição”, reforçam.
A conclusão do estudo foi que a disbiose endometrial observada em pacientes com endometriose pode estar ligada a uma deficiência na funcionalidade da lectina do complemento. Ao mesmo tempo, os níveis alterados de lectina ligadora de manose podem resultar de uma via estrogênica disfuncional.
Entretanto, mais estudos com outros grupos de idade, estágios da condição e variações de tratamento são necessários para novas descobertas. O artigo ‘A possible association between low MBL/lectin pathway functionality and microbiota dysbiosis in endometriosis patients’ foi publicado em janeiro de 2025 na Life Sciences – doi: 10.1016/j.lfs.2025.123427.
A doença
A endometriose é uma condição altamente prevalente, afetando aproximadamente 190 milhões de mulheres globalmente, e estimativas sugerem que quase 10% das mulheres sejam diagnosticadas ao longo da vida.
A implantação ectópica de tecido funcional dentro do peritônio pélvico e ovários leva a sangramento recorrente, nódulos, inflamação, dor, cicatrizes, formação de aderências e, eventualmente, infertilidade. Esses sintomas podem causar ansiedade, depressão e comprometimento do funcionamento social, afetando gravemente a qualidade de vida.
