Composição da microbiota intestinal no envelhecimento

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A microbiota muda com o envelhecimento

Escrito por: Elessandra Asevedo

O envelhecimento é um processo gradual e contínuo que gera alterações fisiológicas no organismo, sendo influenciado por uma complexa interação de fatores genéticos e ambientais. Dentre as muitas mudanças que ocorrem no organismo humano com o passar dos anos estão as alterações na microbiota intestinal. Esse complexo ecossistema composto por mais de 100 trilhões de microrganismos, e que se forma a partir do nascimento, passa por importantes modificações na qualidade e na diversidade de bactérias ao longo da vida.

Para entender o que ocorre nesse ambiente, cientistas brasileiros realizaram uma abrangente revisão bibliográfica para explorar os intrincados mecanismos que influenciam a composição da microbiota intestinal ao longo do processo de envelhecimento. Além disso, os pesquisadores avaliaram o potencial dos polifenóis como ferramenta estratégica para promover a preservação de microrganismos intestinais robustos e equilibrados.

De acordo com os pesquisadores, no início da vida a microbiota intestinal está bem estabelecida, mas variações sutis persistem até por volta dos 40 anos. “Uma certa estabilidade é alcançada durante este período, mas pode ser perdida ao longo do processo devido ao envelhecimento de procarióticos e eucarióticos simbiontes, resultando em um estado de disbiose”, explicam.

Entretanto, após os 70 anos ocorrem alterações perceptíveis na composição da microbiota intestinal como consequência do impacto cumulativo de vários fatores de estresse, dos processos fisiológicos de envelhecimento no sistema gastrointestinal e de mudanças no estilo de vida e nos hábitos alimentares. Essas alterações normalmente se manifestam como uma redução na biodiversidade microbiana, acompanhada por um aumento de bactérias Gram-negativas (ruins) oportunistas e uma diminuição de espécies supostamente associadas às funções de promoção da saúde.

Além das alterações na diversidade da microbiota, o envelhecimento também resulta na redução da capacidade metabólica, em níveis mais baixos de ácidos graxos de cadeia curta e em potenciais ligações com condições relacionadas com a idade. Essas mudanças podem incluir, por exemplo, interrupções no trânsito intestinal, perda de peso, redução do apetite, declínio cognitivo, fragilidade, deficiência de vitamina D, hipertensão, diabetes, artrite e sarcopenia, entre outros problemas.

Ademais, costuma ocorrer um declínio na função da barreira intestinal modulada pela microbiota, levando a uma diminuição na produção de proteínas de junção estreita e mucinas. Estudos em humanos revelam, ainda, um declínio na população de microrganismos na microbiota intestinal envelhecida, caracterizado pela redução de Firmicutes e Bifidobacterium e, simultaneamente, pela elevação de Bacteroidetes e Enterobacteriaceae pró-inflamatórias.

Saúde e a idade

A microbiota intestinal influencia significativamente a saúde geral por meio de sinalização bidirecional complexa com os sistemas nervosos central e periférico, assim como outros órgãos distantes. A interrupção da comunicação entre a bactéria e o hospedeiro leva à disbiose, favorecendo o desenvolvimento de várias doenças como, por exemplo, distúrbios neurológicos, doenças cardiovasculares e câncer.

De acordo com os pesquisadores, as modificações epigenéticas, impulsionadas por diversos regimes alimentares, desempenham um papel fundamental na intrincada comunicação entre a microbiota intestinal e a estrutura celular do hospedeiro. “Isso enfatiza a necessidade crescente de explorar caminhos eficazes para modular a microbiota intestinal para promover a saúde”, afirmam.

Neste contexto, entra em cena os compostos ricos em polifenóis, emergindo como fortes aliados no tratamento e prevenção de diversas doenças. “Reconhecidos pela capacidade anti-inflamatória, antioxidante e imunomoduladora, os polifenóis são cada vez mais reconhecidos pelo potencial entrelaçamento com a microbiota intestinal na trajetória de diversas doenças”, sugerem os autores.

Além disso, há um foco crescente de estudos para identificar como a microbiota pode iniciar ajustes epigenéticos, com os compostos polifenólicos sendo potencialmente a chave para neutralizar estas alterações epigenéticas relacionadas com a idade. Embora os dados neste sentido ainda estejam em evolução, muitos cientistas trabalham para aprofundar os efeitos dos compostos polifenólicos em conjunto com a modulação da microbiota intestinal ao longo do processo de envelhecimento. O estudo ‘Polyphenolic compounds: orchestrating intestinal microbiota harmony during aging’ foi publicado no periódico Nutrients em 2024.

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