O estabelecimento da microbiota intestinal infantil é um processo orquestrado que resulta em ecossistemas microbianos especializados com consequências duradouras para a saúde geral. A montagem microbiana é influenciada por um número crescente de fatores genéticos e ambientais, entre os quais a amamentação desempenha fator fundamental. Considerado alimento ‘padrão ouro’ para o crescimento e desenvolvimento infantil, o leite materno fornece os componentes nutricionais e bioativos para a formação de um ecossistema intestinal saudável durante a primeira infância. Ademais, contribui para menor incidência ou gravidade de doenças, especialmente as diarreicas e infecções gastrointestinais.
Um artigo de revisão conduzido por pesquisadores da Universidade Johns Hopkins, nos Estados Unidos, reuniu evidências que apontam que os compostos bioativos fornecidos no leite materno afetam o estabelecimento da microbiota intestinal na primeira infância. De acordo com os autores, a associação entre a amamentação e o estabelecimento da microbiota intestinal infantil tem sido uma área ativa de investigação em cenários fisiológicos e patológicos. “Entre os achados bem documentados, os macros e micronutrientes essenciais oferecidos pela amamentação estimulam o crescimento e o desenvolvimento microbiano mais adequados no intestino infantil”, descrevem.
Evidências
Além disso, evidências mais recentes indicam que uma comunidade bacteriana rica e diversificada presente na microbiota do leite materno pode ser uma fonte única de colonização no intestino do bebê. “Mesmo que haja uma adaptação evolutiva notável para selecionar espécies bacterianas para a microbiota intestinal infantil, o leite materno evolui para promover indiretamente a saúde infantil”, observam. Apesar de estudos terem estabelecido o papel de componentes críticos presentes no leite materno para a formação da microbiota intestinal do bebê, os mecanismos subjacentes pelos quais a amamentação pode conferir essa relação permanecem pouco compreendidos.
Comunicações bidirecionais entre a colonização microbiana e o desenvolvimento imunológico já foram propostas. De acordo com os achados, não apenas a microbiota intestinal afeta o desenvolvimento do sistema imunológico, mas também o sistema imunológico influencia a microbiota intestinal. Portanto, os vários componentes imunológicos presentes no leite materno, como citocinas e hormônios, podem executar funções cruciais no desenvolvimento imunológico. Por atuar diretamente nesse ecossistema, pode influenciar indiretamente a microbiota intestinal do bebê.
Ainda que as evidências apresentadas no artigo sejam relevantes, os autores avaliam que é preciso realizar um sequenciamento mais profundo e um perfil metabólico abrangente da microbiota intestinal infantil. Desta forma, será possível obter melhores insights sobre as funções microbianas e compreender se e como os componentes bioativos presentes no leite materno atuam sinergicamente para moldar esse ecossistema.
“A melhor compreensão da relação entre a amamentação e a evolução da microbiota intestinal infantil, durante os primeiros anos de vida, facilitará o desenvolvimento racional de intervenções adaptadas à microbiota para melhorar a saúde humana”, concluem. O artigo ‘Breastfeeding and infant gut microbiota: influence of bioactive components’ foi publicado em setembro de 2024 na revista Gut Microbes
