A sociedade está cada vez mais envelhecida e é fundamental manter uma expectativa de vida saudável por meio de cuidados. A fragilidade do idoso é um estado de maior vulnerabilidade e suscetibilidade a eventos adversos de saúde com um impacto significativo na qualidade de vida. Além disso, o declínio na quantidade e qualidade do músculo esquelético, também conhecido como sarcopenia, tem papel no desenvolvimento da fragilidade física. Ambos são altamente prevalentes em pessoas não apenas com idade avançada, mas também em pacientes com doenças cardiovasculares, câncer ou demência.
Os mecanismos biológicos da fragilidade e sarcopenia são multifatoriais, complexos e ainda não totalmente elucidados. Estes variam de danos ao DNA, e desbalanço entre síntese e degradação proteica à disfunção mitocondrial, senescência celular, mudanças hormonais e fatores ambientais. Atualmente, não há um padrão ouro para o tratamento da fragilidade e sarcopenia. No entanto, evidências crescentes sustentam que a combinação de treinamento físico e suplemento nutricional melhora a função do músculo esquelético, com uma variedade de outras terapias medicamentosas sendo elaboradas com base na fisiopatologia subjacente citada.
Um estudo feito na Escola de Educação Física e Esportes da Universidade de São Paulo (EEFE/USP) buscou reunir os principais trabalhos da área da saúde que envolvem o desenvolvimento da fragilidade física e da sarcopenia. O foco foi discutir estratégias de tratamento para os dois quadros, especialmente em pacientes com doenças cardiovasculares. Os pesquisadores também descreveram sobre os mecanismos biológicos, bem como o potencial de intervenção por meio de exercícios, dieta e terapias específicas.
Atividade física e alimentação
A sarcopenia e a fragilidade podem ser entendidas como uma via de mão dupla para as outras doenças. Ou seja, por serem condições comuns na terceira idade, a pessoa pode desenvolver problemas cardiovasculares antes delas, mas o contrário também é possível. Isso pode acontecer com o diabetes mellitus, por exemplo, pois a dificuldade em captar glicose pela célula muscular pode ser causada pela redução da massa muscular, principal tecido responsável por consumir esse nutriente, ou vice-versa.
De acordo com o pesquisador Guilherme Fonseca, professor doutor da EEFE/USP, para a prevenção da sarcopenia e a fragilidade o mais indicado é a prática de exercício físico. “O treinamento de força é indicado para ambas as condições, com a adição de exercícios aeróbios com intensidade baixa/moderada durante um período estabelecido”, ensina. O treino deve ser feito de duas a três vezes por semana, envolvendo os grandes grupos musculares, como membros superiores, inferiores e músculos do tronco, abdominais e torácicos.
A dieta rica em fontes de proteína também é fundamental para prevenir e tratar a sarcopenia/fragilidade. A ingestão calórica deve ser aumentada para que corresponda tanto ao gasto energético necessário diariamente quanto ao consumo de energia extra que os exercícios físicos irão gerar. Apesar de o treinamento físico e a alimentação, terapias farmacológicas têm sido estudadas. No entanto, ainda são necessários mais estudos para otimizar o tratamento medicamentoso nesses pacientes.
“Por exemplo, mais estudos que avaliem os medicamentos que aumentam a capacidade regenerativa do músculo esquelético, como terapia de reposição hormonal anabólica, inibidores de miostatina e terapia anti-GDF-15. Assim poderemos melhorar o prognóstico desses pacientes”, finaliza o pesquisador. Dessa forma, o tratamento para estes pacientes é baseado em três pilares: exercício físico, dieta adequada e tratamento medicamentoso em casos específicos. O trabalho ‘Biological basis and treatment of frailty and sarcopenia’ foi publicado em junho de 2024 no Cardiovascular Research.