A enxaqueca é uma dor de cabeça que dura de 4 a 72 horas com características que geralmente incluem dor pulsátil unilateral de intensidade moderada a grave. A condição pode ser agravada pela atividade física rotineira e está associada a vômitos ou náuseas, fotofobia e fonofobia. Em resumo, é um dos distúrbios neurológicos mais incapacitantes do mundo, afetando principalmente as mulheres.
Embora os mecanismos ainda sejam pouco compreendidos, estudos clínicos das últimas três décadas concentraram a atenção em dois neuropeptídeos. Um deles é o peptídeo relacionado ao gene da calcitonina (CGRP) e o outro é o polipeptídeo ativador da adenilato ciclase hipofisária (PACAP), cujo gene codifica duas isoformas contendo 27 ou 38 aminoácidos.
Ambos são peptídeos vasodilatadores que podem causar ataques semelhantes aos da enxaqueca quando infundidos em pessoas e quando injetados em roedores. Por isso, pesquisadores norte-americanos realizaram uma revisão científica que compara as semelhanças e diferenças entre os peptídeos em ações clínicas e pré-clínicas na enxaqueca.
Semelhanças e diferenças
De acordo com os autores, uma semelhança importante do CGRP e do PACAP é a capacidade de induzir dores de cabeça parecidas às da enxaqueca quando infundidos em pacientes com enxaqueca. Assim, a infusão intravenosa de CGRP causou dor de cabeça tardia semelhante à enxaqueca em cerca de 63% dos pacientes com enxaqueca e dor de cabeça leve e imediata em indivíduos controle.
“Da mesma forma, a infusão intravenosa de PACAP-38 causou uma dor de cabeça tardia semelhante à enxaqueca em cerca de 68% dos pacientes com enxaqueca, mas raramente em indivíduos controle. Isso também foi observado com a isoforma PACAP mais curta, PACAP-27”, explicam os autores.
Além disso, os ataques induzidos por CGRP e PACAP em pacientes com enxaqueca foram efetivamente tratados com sumatriptano. No entanto, o medicamento não bloqueou as dores de cabeça induzidas por CGRP em indivíduos controle, o que enfatiza a importância de fazer estudos de infusão em pacientes com enxaqueca.
Ambos os peptídeos são encontrados em áreas distintas, mas sobrepostas, e relevantes para a enxaqueca, principalmente com a prevalência de CGRP nos gânglios trigêmeos e PACAP nos gânglios esfenopalatinos. Uma diferença clínica notável é que o PACAP, não o CGRP, causa sintomas semelhantes aos premonitórios nos pacientes.
Conclusões
De acordo com os autores, o CGRP desempenha um papel fundamental na enxaqueca. Contudo, o CGRP por si só não pode ser responsável por todos os casos. Assim, é provável que o neuropeptídeo PACAP desempenhe um papel relacionado, mas distinto, com base nas semelhanças e diferenças observadas em estudos clínicos e pré-clínicos. “Em resumo, sugerimos que o PACAP e seus receptores fornecem alvos terapêuticos ideais para complementar e aumentar a atual terapêutica da enxaqueca baseada em CGRP”, finalizam. O estudo ‘Shared and independent roles of CGRP and PACAP in migraine pathophysiology’ foi publicado em 2023 no The Journal of Headache and Pain – doi: 10.1186/s10194-023-01569-2.